Mais governista do que o governo, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, não aceita a decisão do STF, em liminar, garantindo uma CPI exclusiva para apurar os escândalos da Petrobras. Está encarando o assunto como missão, afinal, é dele a maioria dos cargos importantes no sistema Petrobras, como a presidência da Transpetro, onde está Sergio Machado há dez anos e quatro meses. Machado, por sinal, é citado ao menos quatro vezes nas agendas de 2012, de 2013 e, também, em um caderno mantido por Paulo Roberto, quando este já atuava como consultor e empresário do setor petroleiro. Na agenda de Paulo Roberto há estranhos – e ainda indecifrados – registros da anotação de celulares de Machado e de uma menção a "curso c/ Sérgio Machado, 5%", ao lado do valor R$ 5 mil e da inscrição "dois meses". A PF tenta decifrar a anotação.

Renan (com o pescoço em risco), na ausência de outro discurso, alinhava o de ingerência do Judiciário no Legislativo. Não é verdade o que ele diz. Em verdade, o licencioso senador alagoano está atolado até o pescoço na lama que escorreu (e ainda escorre?) na Petrobras, enquanto o Congresso, que ele dirige, renuncia ao seu papel quando atua em interesse particular ou como uma seção do Executivo, como no caso que ora é abordado, ou, ainda, quando o negligencia. Atitude que se evidencia quando Congresso Nacional recusa sua missão de fazer a reforma política reclamada pela sociedade, mesmo de forma tópica, como no caso da doação de empresas para campanhas eleitorais. Por essa conta, outra vez, o STF foi instado a cumprir o seu papel defensor das regras do regime democrático.


E foi o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, ao justificar seu voto contra a doação de empresas para campanhas eleitorais, que deu o tom do argumento: considero a inércia do Congresso Nacional um risco para a democracia. “É lamentável que a instituição tenha deixado escapar a chance de fazer a reforma política”, tema que ganhou relevância com os protestos de junho. E, assim, “somos nós que temos que empurrar a história”, frase que ecoou como defesa da legitimidade do STF no processo. Uma verdade que dói e faz mal. No minado campo da política não existe espaço vazio. Se um recua, o outro avança e, quase sempre, o resultado, ainda que pareça, de imediato, como apropriado, pode comprometer a normalidade democrática.