Não sei se o meu olho está ávido por qualidade, mas não me recordo de ter visto, no Ceará, programas tão ruins no conteúdo e na forma nos últimos vinte anos. Talvez tudo decorra do fato de o eleitor não ter opção de escolha. É a língua ou o beiço. É correr na chuva e cair no molhado. São quatro chapas disputado o governo cearense, mas só duas contam, verdadeiramente. Uma situação que eu não recordo ter visto nos meus mais de 40 anos. Sempre houve um terceiro nome com condições de entrar na disputa ao menor vacilo ou mesmo no esforço concentrado para evitar a polarização. Desta vez, foi-nos preparada uma situação inusitada. As duas chapas complementares, do PSB e do PSOL, apenas completam o quadro. A candidata do PSB, Eliane Novais, é tão fraca que quando leva a presidenciável Marina ao programa a gente teme que a Marina saia prejudicada.
As duas chapas que disputam deveras o governo do Ceará – a do PMDB com Eunício Oliveira e a do PT/Pros de Camilo Santana, em verdade, do clã Gomes – são produtos de uma mesma matriz, na base, mas em negócios parece haver grandes diferenças, tanto que o lado do clã qualifica o outro de “ladrão”, ainda que o candidato Camilo tenha escorregado para não endossar tal qualificativo. Preferiu dizer (orientado ou não) que sua campanha “não tem dinheiro sujo”.
Camilo fugiu da raia no caso do ataque ao adversário Eunício e tangenciou em assuntos importantes como a segurança, recusando-se a falar sobre a participação da prefeitura de Fortaleza no combate à criminalidade, mas fazendo fartos elogios ao falido Ronda do Quarteirão, que tem como proposta vivificar. Interessante que Camilo não comenta a participação da Prefeitura de Fortaleza no combate à violência, mas usa a construção das UPAs da prefeitura como se fossem obras governo, e ainda anuncia construção de novas UPAs pela prefeitura. Para ter resposta tem de estar no roteiro ou script.
Seja como for, Camilo Santana e Eunício Oliveira são adversários de mesmo DNA. Dividiam (mais ou menos) o governo e a prefeitura de Fortaleza (o vice do governo não é mais do PMDB, mas o da Prefeitura continua sendo), estiveram juntos até a véspera das convenções, comendo no mesmo prato, tanto é que dividem também o apoio presidencial e muitas das propostas de governo – ambos prometem continuar as obras de Cid Gomes, ampliar o Raio, na segurança, e implantar o tempo integral, na educação. Não fossem os ataques de Ciro aos peemedebistas e algumas insinuações dos peemedebistas (via vice-prefeito de Fortaleza), daria até para pensar que os dois eram alternativas do tipo, recorrendo ao passado, Arena I e Arena II, ou seja, Adauto e Humberto. E o candidato Camilo ainda tem coragem de dizer que não é candidato por vaidade, mas “sim por projeto”. Aqui, acolá, Eunício ensaia, mas tem vergonha de dizer a mesma coisa.