Está registrado. As secas históricas, que deixaram um legado de graves problemas no semiárido, ocorreram nos anos de 1583, 1614, 1690/93, 1720/25, 1824/25, 1877/81, 1915, 1932, 1958, 1990/93 e entre 2011/15. Impressiona a periodicidade das grandes secas. Ocorrem em um ciclo de 26 anos.

A partir do século XVIII, as secas começam a acontecer com maior gravidade, como a de 1777-1788, que ficou conhecida como a “grande seca”. Há registros históricos que apontam perda de mais de meio milhão de vidas e que restou apenas 1/8 do gado da capitania do Ceará.

A tragédia decorrente da chamada "grande seca" teria motivado o governo a tomar as primeiras medidas para combater os efeitos das estiagens no Nordeste. De lá até cá, quase sempre paliativas.

Os saques também estão no rol dos efeitos das secas. O jornal Diário de Pernambuco (03/05/1998) publicou que os primeiros saques no Nordeste, claro, feitos por índios famintos, ocorreram no século 17. Nos anos 30, os saques foram feitos pelos cangaceiros. De 1930 a 1958, os saques passaram a ter caráter de massa, com mulheres e crianças participando. A partir de 1958, os saques foram direcionados aos órgãos do governo.

A crueldade de campos de concentração de flagelados também veio em decorrência das grandes secas. Surgiu em 1915 empurrado pelo que acontecera na "grande seca" de 1877/78, quando levas de retirantes invadiram as cidades, deixando um legado de doenças e sujeira (Fortaleza, de 21 mil habitantes, pelo censo de 1872, passaram a ter 130 mil). Em 1915, a oeste da cidade de Fortaleza foi erguido, então, na região alagadiça da atual Otávio Bonfim, o primeiro campo de concentração brasileiro, onde ficou em confinamento cerca de 8 mil pessoas.

A seca de 1932 trouxe outra vez os currais humanos - e de forma ampliada e mais intensa. Cerca de 70 mil "mulambudos"  ficaram nos "currais do governo", como eram conhecidos. Foram sete os campos de concentração: Ipu, Quixeramobim, Cariús, Buriti, Crato, Fortaleza (Otávio Bonfim e Pirambu) e Senador Pompeu. Felizmente, o campos de concentração brasileiros, talvez escaldados pelo o horror dos campos da Segunda Grande Guerra, não mais voltaram, pelo menos não no mesmo modelo.

       No passado, como hoje, espasmos retóricos de políticos marcaram presença. “Os efeitos da seca não têm limites", blaterava no Congresso o deputado e escritor cearense José de Alencar. Do autor de Iracema ao atual governador, Camilo Santana, do PT, que ainda precisa ir ao Interior cearense para conhecer os efeitos da seca, pouco ou quase nada de verdadeiramente concreto e definitivo se fez para evitar os efeitos da seca. Os remédios são tópicos e a roubalheira são as mesmas.

       Otamar de Carvalho ("A economia política do Nordeste") mostra que o fenômeno da seca tem 20 mil anos. Órgãos como SUDENE, DNOCS, CODEVASF, que surgiram para resolver o problema da seca, não passaram de pródigos cabides de empregos para os desavergonhados políticos.
      
       O problema milenar, nunca tratado com seriedade e vontade política, poderia ter sido resolvido com a transposição do Rio São Francisco. A ideia surgiu ainda em 1915. Foi adotada pelo governo  militar em 1982, com o ministro Mário Andreazza, que também queria jogar no São Francisco das águas do Tocantins. Não saiu da pretensão.

Foi lançada, finalmente, em 2007 (governo Lula), com conclusão prevista para 2012, ao custo de R$ 4,7 bilhões. Com a demora, o custo saltou para R$ 8 bi e hoje já ultrapassa os R$ 16 bilhões. Infelizmente, acabaram as águas do "Velho Chico" e não acabaram a transposição. 2017 é o novo prazo de conclusão, mas e a água, se o São Francisco é hoje pouco mais que um fiozinho?

Veja no link abaixo um vídeo da obra: