Sou de um tempo em que a pessoa somente se arriscava a abordar, principalmente na mídia, aquele assunto que dominava sobradamente. Parece que, regra quase geral, essa atitude não vale muito no dias atuais. O que se vê mais é gente falando sobre o que não domina e, mais ainda, não conhece. Basta que o assunto esteja na pauta do dia para que aventureiros das letras, que abusam do "Control "C", Control "V", decidam cometer textos 'acadêmicos", críticos, eivados de "sabedoria".

Como são assuntos dominantes, artigos sobre Lula e seu julgamento e sobre (in)segurança aparecem de montoeira, a maioria atulhado de expressões que não passam de lugares comuns, configurando uma abordagem de pouco saber e contributo. Pego três exemplos entre os muitos artigos que foram publicados recentemente. Thiago Paiva, no artigo "Torres de vigilância: a vulnerabilidade vista em tempo real", no diagnóstico da situação, repete frases batidas e comete diversos equívocos, típicos da falta de profundidade. Na parte de sugestão ele ensina: "Tentar resolver o problema da insegurança, do avanço das facções criminosas e do aumento dos homicídios é, portanto, parte de um exercício complexo, mas que deve se pautar, sempre, pela não repetição de erros". Grandioso. Em seguida, o articulista entra na crítica e tacha de eleitoreiro o Programa Municipal de Proteção Urbana, que pouco conhece, pelo que narra.

O articulista detona o programa municipal ao fazer uma comparação indevida com o fracassado programa "Crack, é possível vencer", do governo federal, lançado em Fortaleza no início de agosto de 2012. Há pequenas semelhanças entre os dois programas, sobretudo na parte da proteção. O Crack previa ações nas fronteiras e nos locais de maior concentração de uso do crack nos centros urbanos e a implementação de 60 câmeras de videomonitoramento fixo. O Crack era um programa de combate às drogas . Pouca coisa saiu do papel.

O professor e diretor do curso de Direito da UFC, Cândido Albuquerque, com pompa e circunstância, tem atitude semelhante, ainda que possuidor de notório saber na área do direito, ao abordar a segurança. Tem o cuidado de advertir que não conhece tudo a respeito do programa do município, mas não dispensa a crítica no melhor estilo não conheço e não gosto. Não oferece nenhuma sugestão em troca, concluindo por concitar todos ao exercício da cidadania. Grande!



Pior ainda é se o assunto for a briga judicial de Lula da Silva. Quando a paixão fala mais alto é um Deus nos acuda. Mesmo quando alguns tentam disfarçar a admiração quase sempre o que sai não passa de um inextricável manifesto de desejos contrariados. Quase reconhecendo, mas nunca admitindo plenamente, o cidadão que se mete a cometer um artigo tende a fazer comparações dos fatos atuais com atos do passado, na descabida admissão de que o roubo ou a safadeza passada inocenta a presente. Veja o que o articulista Plínio Bortolotti escreveu em seu artigo "O principal inimigo foi batido". O título já revela tudo, não?

Diz o articulista engajado que "parece óbvio que Lula, como qualquer outro presidente, foi conivente ou beneficiário da corrupção. Essa prática foi o modo de governar no pós-ditadura. “Eruditos”, a exemplo de FHC, apelavam para a “ética da responsabilidade”; os truculentos recitavam a oração de São Francisco: “É dando que se recebe”. Depois, acrescenta, sem cuidado acadêmico que o governo de coalizão é o culpado, porquanto se faz necessário, no modelo brasileiro, "comprar o apoio do MDB e de dezenas de partidos, cujos deputados ficam de bico aberto e batendo as asinhas, esperando o petisco no confortável ninho do Congresso Nacional". Muito pior é quando tenta "ser justo". Afirma que "se todos agiram assim", Lula NÃO está desculpado, assertiva que usa como senha para desqualificar o TRF-4, no julgamento do caso do TRIPLEX DE GUARUJÁ, que diz taxativo que "não restou provado".
Ora preclaro articulista, o senhor chegou a folhear o processo que foi julgado em segunda instância pelo TRF-4? Acredito que não viu, mas julga as provas inconsistentes. Sendo assim, o que fizeram o juiz Sérgio Moro e os três desembargadores do TRF-4? Há um complô contra Lula na Justiça? Com o bandeiroso artigo a quem o senhor quer convencer? Aos admiradores de Lula como o senhor não precisa. Eles estão dominados. Então, não trate com menoscabo o leitor liberto.