(OPINIÃO)


A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, comparando o Holocausto nazista ao povo judeu à atuação de Israel no contra-ataque às agressões do Hamas, é uma demonstração clara de falta de senso de proporção e de compreensão, por parte do Chefe de Estado brasileiro, das circunstâncias envolvidas em cada um dos fatos históricos. 

A comparação, além de completamente descabida, é desrespeitosa com as vítimas do Holocausto, não faz justiça ao povo palestino e ignora as inúmeras dessemelhanças entre os dois eventos comparados. Vale lembrar que o atual Presidente tem sido pródigo em lançar manifestações duvidosas no campo da política internacional, sempre aplaudida pela sua claque; qualquer semelhança com seu antecessor é mera coincidência.

De início, é importante destacar que a atuação de Israel vem, de fato, excedendo todas as diretrizes humanitárias do direito internacional de guerra, gerando uma tragédia cruel sem precedentes na região. A população civil palestina tem sido duramente afetada pelos ataques do Estado de Israel, com um número alarmante de mortes e feridos, sobretudo crianças, além de danos materiais irreparáveis.

No entanto, a tragédia por si só não significa que a comparação com o Holocausto seja de qualquer modo justificável ou aceitável. Basta ponderar que as origens dos conflitos entre Israel e Palestina são complexas e envolvem questões históricas, políticas, religiosas e territoriais. Comparar essa situação com o Holocausto, que foi um genocídio de milhões de pessoas sistematicamente implantado no âmbito da atuação estatal interna da Alemanha Nazista, é uma tentativa desonesta de simplificar os contextos de ambos os conflitos.

Além disso, a extensão das tragédias é completamente diferente: enquanto o Holocausto durou anos e afetou milhões de pessoas inocentes que não dispunham de aparato organizacional mínimo, o conflito atual tem sido marcado por episódios de violência cuja extensão se entremeia à agressões mútuas entre palestinos e israelenses, temperados pela estratégica coligação de alvos militares do Hamas a instalações civis palestinas, política detestável promovida pelos terroristas do Hamas.

Outra diferença importante é o pano de fundo histórico por trás de cada um dos eventos. O Holocausto foi motivado por uma ideologia racista e antissemita, que buscava a eliminação completa dos judeus da Europa em nome da purificação racial do povo alemão. Os judeus, assim como os demais grupos sociais perseguidos pelos alemães durante a 2ª Grande Guerra, eram os vilões internos perfeitos para o avanço nacionalista do partido nazista. Já o conflito entre Israel e Palestina envolve questões territoriais e políticas mais profundas, que se sub-rogam aos períodos mais remotos de ocupação e invasão daquela região, além de diferenças culturais e religiosas que foram aprofundadas a partir da criação do Estado de Israel após a 2ª Guerra Mundial. As diferenças são gritantes e desaconselham qualquer comparação inclusive entre as naturezas dos conflitos. Compará-los é ignorar completamente os contextos históricos envolvidos.

Por fim, é importante destacar a resposta disparatada dos órgãos de relações exteriores de Israel, que igualmente vem se excedendo nas suas posições, principalmente por confundir a pessoalidade do nosso atual Chefe de Estado com o Estado Brasileiro. É fundamental que as relações diplomáticas entre os países sejam pautadas pelo respeito mútuo e pela busca de soluções pacíficas para os conflitos, e não por ataques pessoais e desrespeitosos entre instituições e Chefes de Estado.

Enfim, a comparação feita pelo Presidente Lula entre a atuação de Israel em Gaza e o Holocausto é completamente descabida e desrespeitosa. Por outro lado, é importante reconhecer que a atuação de Israel tem sido desastrosa, excedendo as diretrizes humanitárias do direito internacional de guerra, o que não justifica a comparação com um dos eventos mais trágicos e cruéis da história da humanidade.

Brasil e Israel são importantes atores internacionais, possuindo relevância em diversas instâncias dessa natureza. É fundamental que as relações diplomáticas entre os países sejam normalizadas, voltando a ser pautadas pelo respeito mútuo e pela busca de soluções pacíficas para os conflitos.

JOSÉ (NILTON) G. MONTEIRO
ADVOGADO