Não me dá nenhum prazer e tampouco desperta qualquer sentimento de vingança, dos anos e anos de escárnio, ver os efeitos da seca que maltrata algumas regiões do Sudeste brasileiro. Mesmo que quisesse não poderia ser diferente, pois o Nordeste, quase todo, vive situação similar. Só não é igual porque a seca de São Paulo não sai da mídia, enquanto a nordestina não é lembrada e, quando é, sempre tem como gancho da matéria algo depreciativo. Até o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), só tem olhos para a campanha do seu candidato Camilo Santana e as obras da Ponte Estaiada. A nossa mídia mesmo, digo os jornais e TVs nordestinos, deixam o material de rede tomar conta do noticiário e nada colocam da seca local, tão grave quanto a de lá. Será falta de pauteiro nas redações, como lembra o grande jornalista Luciano de Paiva?


Outra diferença é que lá sobra providência e não falta dinheiro. Há até conflitos de ordem na briga pela água. No Nordeste, no Ceará, especialmente, como no Piauí, onde é mais aguda a falta d’água, já está definida a histórica e eterna ação (frentes de serviço e carros-pipa), para abastecer os habitantes e animais que restarem com a água barrenta, de porões de reservatórios e de poços minguantes. Mais uma diferença está na qualificação dos atingidos pelos efeitos da seca, que fogem em busca de um melhor destino (pelo menos com água): do Nordeste, são qualificados como retirantes (dizer que são miseráveis é tautológico, pois quando decide migrar o nordestino já consumiu todas as modestas reservas), que não têm o que beber e menos ainda o que comer; do Sudeste, são chamados de vítimas da incúria dos administradores, que se mudam para outros sítios onde não exista o problema. São bem recebidos e respeitados. Os nordestinos são pouco mais que marginais.