O programa dos candidatos a governador e senador do Ceará, incluindo ainda os deputados estaduais (quarta-feira, 20/08/14), configura uma verdadeira sopa de letras e um painel de rostos e falas atrapalhadas e gozadas. Vi só no horário noturno (a partir das 08h30min) e houve momentos em que pensei estar assistindo um sonolento documentário perfil de alguém famoso. Cochilei um pouco, mas suportei ir até o fim, afinal eram novelas de vida de dois candidatos a governador e um senador, Mauro Filho. Cada um tem um parente ou amigo de cabelos brancos ou uma ex-professora que fala do "bom menino que foi" e que cedo já mostrava que "seria um vencedor". Imagina se alguém iria dizer que o menino (qualquer deles) era levado! 

Já o outro candidato a senador, Tasso Jereissati (PSDB), preferiu fazer um programa no modelo Altas Horas de Serginho Groisman, da Globo, para relembrar o passado de governador por três vezes. Já vi coisas mais bem feitas. Um mundo irreal, incluindo a risada de Jereissati. Despropositada e inverossímil.

Os dois outros candidatos ao governo e ao senado também nada acrescentaram. O melhor é o candidato (ao governo) Ailton Lopes, do Psol. A candidata ao Governo, Eliane Novais (PSB), não consegue se colocar e nem agradar, nem quando faz sua homenagem insossa a Eduardo Campos, morto em desastre aviatório. Os candidatos ao senado do Psol e do PSB passam sem despertar qualquer atenção. Pode até ser diferente em futuras oportunidades.


ESCLARECE OU CONFUNDE O ELEITOR?

Se ver os programas de governador já é dopante, quando chega a salada partidária dos deputados estaduais aí vira uma zorra. Há somente dois ou três cenários (BG) para os candidatos de diversos partidos. É uma confusão pois o eleitor tem de saber qual é o partido pelo número e ainda tentar adivinhar quem apoia quem. 

No caso dos estaduais da coligação que sustenta o candidato Eunício Oliveira (PMDB), há quem apoie Eunício e Tasso; quem apoie Eunício, Tasso e Dilma; quem está só com Eunício e Dilma; e quem está só com Tasso e Aécio - nesse caso o fundo é azul. Achei estranho que o vice Roberto Pessoa, do PR, não apareça em lugar nenhum. Parece que nem existe. Foi citado pelo candidato Eunício Oliveira, mas sem referência alguma ao que já foi e o que representa Roberto Pessoa.

A LEI DO CHICO DE BRITO*

O candidato petista do clã Gomes não consegue ainda passar carisma e carinho. É seco e distante. A conversa dele com a vice Izolda Cela (à tarde) foi ruim. Pareciam tão distantes, como se não se conhecessem. No programa noturno, depois da novela da vida dele (Camilo) - que não produziu fungados nem na dona Mundinha, uma senhora de mais de 60 anos, que mora comigo e funga até em sermão de padre meloso -, o candidato aparece no vídeo falando de sua breve experiência administrativa, enquanto depoimentos são enxertados. Foram depoimentos com os elogios de sempre, mas o de Ciro Gomes, secretário de Saúde, destoou, pelo exagero bem cirista: "...Camilo realmente ama o povo do Ceará". E quem estava falando de amor? Na sequência aparecem dois repórteres, um homem e mulher (jovens), se revezando e quase se afogando na enxurrada de chamadas de matérias de realizações de Camilo quando secretário (Agricultura e de Cidades). Só não falaram da construção dos banheiros (kits sanitários), que terminou em escândalo.

No material dos estaduais da coligação PT, Pros e mais 16 partidos, o caos tomou conta. Fundos (BG ou cenário) iguais para todos, mudando só o nome e o número, tornou tudo muito igual, incluindo na manifestação de apoio à chapa majoritária - presidente, governador e senador. O pessoal do PT mais disciplinado, mesmo afundando no cenário igual, termina dizendo que está com Dilma, Camilo e Mauro. Quem não fala não entra. Casos de Luizianne, Elmano de Freitas e Eudes Xavier.

Fico até pensando - e manteria meu pensamento até o fim - se o horário eleitoral esclarece ou confunde o eleitor, sobretudo na escolha dos candidatos proporcionais. Quanto aos candidatos majoritários, mesmo com a emoção, às vezes, mascarando, é possível tirar algumas conclusões para orientar a escolha no dia do voto.


* A expressão Lei do Chico de Brito teve origem em 1912 quando um Francisco José de Brito, tido como homem honrado, assumiu as funções de intendente (prefeito) do Crato. Chico de Brito não contemporizava, fosse pobre, rico, importante ou não, ele prendia, processava e até castigava. Sempre repetia, para se justificar, que "a lei é dura, mas é lei". Daí surgiu esta expressão "Lei do Chico de Brito”, que significa: "quem faz a lei sou eu e não tem apelação".