De repente, como se tivesse sido planejado como uma ofensiva, de todos os lados apareceram políticos, dos mais aos menos qualificados, atirando contra a presidenciável Marina Silva (PSB), e com todo tipo de arma. A presidenta/candidata Dilma Rousseff (PT) deu o tom da crítica ao abrir o debate do SBT. No seu estilo “pendulo de Foucault” (pendendo para os lados), Dilma abriu a ofensiva questionando a viabilidade econômica de propostas da ambientalista (já abordada em comentário anterior). A petista indagou irônica de onde viria o dinheiro – algo em torno de R$ 140 bilhões. Marina rebate, ainda no debate, que viria do aumento da eficiência na arrecadação e do enxugamento da máquina, que hoje opera com desperdícios incontestes.

No ato, Marina levou vantagem, mas, em verdade, o questionamento de Dilma foi apenas a senha para uma ação conjugada nacionalmente de desmonte da candidata do PSB. No Ceará, o mais velho dos Gomes, Ciro, que havia falado antes, dizendo que Marina seria uma tragédia para o Brasil, foi contestado e chamado de “destemperado”. Mas não houve a mínima trégua. Enquanto respondia, Marina era alvo de outro ataque do clã Gomes, dessa vez o próprio governador cearense Cid Gomes avançou de espada em riste, declarando em alto e bom tom que se Marina for eleita pode não terminar seu mandato:

Eu não dou dois anos de Governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever o que eu estou dizendo... Felizmente, o vice dela é um cara centrado”.

Depois da violenta e preconceituosa acometida de Cid Gomes, virou tribuna livre. Cada um em condições de conquistar um espaço na mídia tratou de arranjar um argumento depreciativo da candidata Marina, dos seus aliados ou do seu plano de governo – feito a lápis. Seguiu a ofensiva o presidente do PT do Ceará, Francisco de Assis Diniz (em seu perfil no Facebook), e seu chefe, o deputado Guimarães, vice-presidente nacional do PT, e diversos outros, que usaram as mídias sociais.

Marina Silva deve ter registrado os estabanados ataques, mas agiu com pleno juízo e certeza do seu caminho. Nada mais respondeu, preferindo falar – no seu programa da tarde na TV, de pouco mais de dois minutos – de suas propostas para o governo do Brasil. Ganhou mais um “round” na luta para chegar ao Planalto.




CID FALA SOBRE CANDIDATURAS E
SOBRE FUTURO DO BRASIL E O DELE


Você já leu a entrevista do governador do Ceará, Cid Gomes (PROS) – da qual tirei um trecho, reproduzido no comentário acima –, aos jornais de Fortaleza? Não? Desculpe a afoiteza, mas aconselho a ler, principalmente se você se interessa pela política e mais que isso pelo tecido social que vivenciamos. O governador, por mais que tente, não consegue disfarçar sua índole oligarca, esquecendo até sua origem e o modo como foi alçado ao poder como um simples e provinciano prefeito do pobre Interior cearense. Começa, assim, com uma previsão fatídica: Marina não conclui o mandato. O que vem a seguir é um completo rosário de opiniões, lições e vaticínios temerários, que não o dignificam e que até contradizem a graduação intelectual que ele carrega.

Com muito esforço para parecer sincero, Cid revela estar seriamente preocupado com o futuro do Brasil, caso permaneça como está o quadro da eleição presidencial. Ou seja, a preocupação dele surgiu a partir do momento em que Marina começou a aparecer como líder das intenções de voto para presidente, e ele não esconde isso.

“Se acontecer de Marina Silva (PSB) ser eleita presidente da República, o que no quadro de hoje é possível, passa a existir a possibilidade de Marina não concluir seu mandato, por conta de suas posições”.

Cid não deixa claro por qual meio, na sua previsão, o mandato de Marina será interrompido: golpe militar ou impeachment de iniciativa do Legislativo por pressão das ruas ou, ainda, assassinato no modelo norte-americano?

Mas, no melhor modelo do Fantástico da Rede Globo, que, depois de pregar o caos, termina com uma luz de esperança, Cid elogia o candidato a vice de Marina, Beto Albuquerque, pintando-o como um homem centrado.


DILMA É DISTRIBUIÇÃO DE RENDA


O governador cearense destaca a gestão da presidente Dilma Rousseff e manifesta, sem barreira, a sua preocupação com a interrupção do atual modelo, referindo-se a uma possível derrota de Dilma para Marina Silva.

“Eu estou preocupado com o Brasil. Com todo o bombardeio feito pela grande mídia, agora nem ela (Marina) sabe o que vai acontecer no Brasil”.

Cid Gomes, com expressão fechada, faz uma pausa, no intuito de produzir emoção, e solta as expressões seguintes, com dramaticidade, olvidando que ele mesmo, quando se candidatou a primeira vez ao governo do Ceará, não tinha mais que a pequena experiência de ter administrado o pequeno e pobre município em que nascera (Sobral, norte do Ceará), e acabou sendo eleito por um semelhante rompante de quebrar o “status quo”, como agora acontece com Dilma:

"Vão eleger, se tudo acontecer como está, se as pessoas não se tocarem, vão eleger Marina presidente da República. Meu Deus! Nada contra a pessoa da Marina, mas essas coisas não são assim. A gente não pode num gesto de protesto, e é um protesto assim meio alienado, porque induzido pela grande mídia, que afinal quer combater o PT, porque esse sistema é mais progressista, distribui renda e eles querem é concentrar renda, querem dar dinheiro para banqueiro, para meia dúzia de poderosos".

Cid só faz uma pausa para aumentar a curiosidade e prossegue, lançando um repto e um vaticínio, ainda mais dramático:

"A custa disso, desgastaram tanto o PT e o candidato deles mesmo, que é o Aécio, que não emplaca, é fraco, e aí vão eleger a Marina”. Eu quero ver é a consequência disso. Eu não dou dois anos de Governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever o que eu estou dizendo... Felizmente, o vice dela é um cara centrado. Religiosamente, a mulher é o que há de mais conservador. Ela passa uma pose de progressista e a meninada acha que ela é progressista. A mulher é uma reacionária".

E Cid não se dá ainda por satisfeito. Declara que Marina Silva retirou do seu programa de governo o capítulo relacionado ao casamento gay, mas que não o fez por convicção, e, em seguida, questiona a proposta de independência do Banco Central:

“Tirou agora porque o (pastor) Malafaia reclamou. Politicamente, ela está assumindo um compromisso público, e isso é que me impressiona, com um negócio de autonomia do Banco Central. Sabe o que é isso? É entregar aos bancos o poder de arbitrar juros. Dizer quanto vai ganhar".


CAMILO CRESCE DE FORMA SUSTENTÁVEL.


Por fim, Cid Gomes (Pros) chega à sua própria sucessão. Garante que as pesquisas internas garantem um patamar de 30% de votos para Camilo Santana (PT), do eleitorado que quer votar no candidato do Governo.

"Então, o Camilo tem um piso de 30%, que é o que nós estamos tentando massificar agora".

Cid continua enfatizando que não tem angústia com o patamar que vive seu candidato na sucessão, e ensina como fazer política e o que vale cada momento e cada ingrediente de uma campanha:

“Partidos são importantes, apoiamentos políticos são importantes, mas tem uma limitação. Eu dividiria assim: Não chega a 30% o número de pessoas que vota por conta do apoio de uma liderança. A grande maioria vota por si só, porque quer uma relação direta com o candidato, simpatiza, acredita nas suas propostas, conhece a sua história. Então, apoio político é importante, mas tem limitações. O apoio político é fundamental para demarcar tempo de televisão. E tempo de televisão nós temos o maior. Apoio político é fundamental para dar uma constância na campanha em todas as localidades. A nossa estrutura nos permite isso. Em qualquer Município que você chegue, tem uma liderança política lá que montou um comitê, com material de campanha. O resto depende das pessoas, da campanha em si".

Ainda no rumo de como se deve fazer uma campanha – e, quem sabe, tais preceitos não se transformem em livro no futuro –, o governador ensina que animar as lideranças é fundamental, sobretudo se a coligação tem mais lideranças e partidos, como é o caso. Por fim, destaca Cid que o grande desafio é assegurar que a candidatura de Camilo tenha um crescimento permanente e sustentável.

Não adianta nada você ter crescimento de explosão que depois se desfaz. É importante que a gente assegure um crescimento sustentável. E tudo indica que a candidatura do Camilo tem crescido, vamos ver essa nova rodada de pesquisas, nesta semana deve sair tanto o Datafolha quanto o Ibope. A gente já tem uma referência de pesquisas anteriores e vamos ver quem cresceu, quem consolidou. Eu sou otimista em relação ao Camilo".


FUTURO INCERTO E BUSCA DE LUZ
PARA NÃO FAZER PAPEL RIDÍCULO


Para completar a sua abordagem panorâmica, o governador cearense fala do seu futuro quando entregar o governo (01/01/2015), classificando-o como “incerto”, mas já adiantando que pretende passar um tempo fora da política, provavelmente no exterior, longe das responsabilidades do governo. Em seguida, faz questão de acentuar que defende a candidatura Dilma Rousseff (PT) à reeleição sem qualquer interesse futuro. 

“Estou na vida pública por acreditar. Por desejar servir e por pensar no melhor para o Brasil. Não tenho nenhum interesse. ‘Ah, vai ser ministro da Dilma’, não quero. Não quero de jeito nenhum. Quero passar uma temporada fora. Estou sinceramente preocupado com o futuro do meu País”.

Deixou claro que sua preocupação tinha um nome: Marina Silva, ressaltando que caso ele vença o pleito, o Brasil sofrerá, mas conseguirá “superar” o período em que a candidata do PSB se mantiver no poder:

“A gente já elegeu o Collor (de Melo). Já sofreu. Aprende. Acho que se houver uma outra coisa, a gente acaba superando. O Brasil tem muito potencial. Mas lamento que isso venha a causar algum custo. É o que eu penso. Com uma opção errada para um País com grandes desafios como é o Brasil?

Voltando a falar, por fim, sobre o seu futuro, disse, sem convicção, como quase misturando sonho com realidade que vai sinceramente avaliar seu retorno à política. De qualquer modo, pela decisão que tomou de ficar no governo até o final, Cid Gomes terá de passar dois anos fora, porquanto o sistema eleitoral brasileiro determina eleições somente a cada dois anos. Na despedida, porém, deixou a Deus a decisão de voltar ou não à política, afinal, ninguém é de ferro:

“Vou avaliar, sinceramente, se vale a pena. Eu torço é para que haja gente nova”. Eu peço a Deus que me ilumine, porque eu já tive parentes na minha família com 83 anos (Vicente Antenor Ferreira Gomes) disputando eleição e às vezes fazendo papel ridículo. Então eu rezo a Deus para me dar luz para eu não fazer essas besteiras".




VALE TUDO DAS PROPOSTAS
E O APOIO DE DILMA


As pesquisas já estão em campo e deverão ser publicas até o fim de semana. São aguardadas com ansiedade, não pelo eleitor, que está se lixando para elas, mas os políticos, que fazem delas material de troca e de faturamento. Mas, enquanto não veem as pesquisas, os candidatos ao governo do Ceará exercitam um vale tudo de propostas que projetariam, se fossem verdadeira, um futuro de ouro para o Estado.

O candidato Eunício Oliveira (PMDB) promete acabar com as casas de taipa em todo o Interior cearense. E anuncia, sem qualquer pudor que vai utilizar os recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop), alegando que o fundo está sendo utilizado pela atual gestão para "pagar contas de campanha". Cita como exemplo, não sei se cabível, a criação de cargos para aliados (duas vagas) na Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (Arce), em julho passado. O peemedebista espicha a crítica ao governo ao dizer que quer utilizar verba do Fecop para financiar a contrapartida de responsabilidade dos municípios para a construção de casas pelo programa federal Minha Casa Minha Vida porque dele “só foi feito 27% do que foi disponibilizado para o Estado, porque o Governo não cuidou disso".

Mesmo igualmente sem uma proposta convincente no campo da segurança pública, que entende pouco (seu ramo é a segurança privada), Eunício Oliveira escolheu três áreas que considera de atendimento prioritário. Anunciou que vai estabelecer medidas para as áreas de Segurança Pública, Saúde e convivência com a Seca. "Vamos colocar três secretários que não vão ser parentes e não vão ser da politicagem". E isso é bom ou é ruim?

No desenrolar da campanha, o peemedebista revela ter recebido material de campanha enviado pela presidente Dilma Rousseff (PT) para ser distribuído no Estado em conjunto com material próprio. É aí onde mora o risco. O eleitor está confuso e não gosta disso. Quer clareza nas atitudes e parcerias dos candidatos e não está vendo. No Ceará, Dilma divide apoio entre o candidato governista Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB).