Depois de 59 anos de vida pública, o senador José Sarney, senador do PMDB pelo Amapá, mas como base curral no Maranhão, sua terra de origem e onde vive e prospera sua família, faz um discurso histórico relevante, como nunca em sua vida política. Parece até a "visita da saúde". Sarney não terá mandato a partir de 2015 porque preferiu se aposentar.

O ex-presidente da República, que foi uma desgraça, começou por reconhecer que foi seu principal “erro” ter permanecido na vida pública após deixar a Presidência da República. Defendeu que é preciso proibir que ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que seja eletivo.

Evidente que não dá para compensar as muitas manobras que ele e a ávida família fizeram para enriquecer e manter o poder. Mas as propostas feitas purgam um pouco uma trajetória longeva e pródiga no campo pessoal mas de quase nenhuma vantagem para o Brasil e seu povo.

Quando pegou a carona de Tancredo Neves e herdou a presidência da República foi permissivo e fraco. Mesmo na literatura, ainda que galgando uma cadeira na ABL, seus livros (ou escritos) são mais um sacrifício que um prazer. Só deixou um legado: a convivência com o contraditório. Em nenhum momento tentou cercear a imprensa, como sonham e tentam os petistas, corruptos e não corruptos (exceções existem).

Sarney disse não ser possível mais “tolerar” o sistema político brasileiro, responsável por “todo o resto” que acontece no país. Se você não leu ainda, mostro agora as principais propostas que Sarney fez no discurso de despedida da vida pública:

  • ampla reforma política que inclui o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais;
  • mudanças nas regras das empresas estatais para evitar ações de corrupção como as que atingiram a Petrobras (para ele, as denúncias que envolvem a estatal “envergonham” o País e prometeu reapresentar projeto, de sua autoria, que cria um estatuto das estatais);
  • defendeu a redução no número de partidos (a maioria formada por “feudos pessoais”. Isso ele conhece demais);
  • pediu a implementação do sistema parlamentarista;
  • manifestou-se favorável à fixação de um teto para as doações privadas às campanhas eleitorais;
  • advogou o voto distrital e lista fechada para a escolha dos candidatos.

Boas ideias, efetivamente. Por que com o poder que teve nunca intentou antes?

No final, saiu com um poema que mostra um trecho em que diz: “Saio feliz, sem nenhum ressentimento. Ai, meu Senado, tenho saudades do futuro”.

Muitos brasileiros também têm saudades de um futuro que não tiveram.