O decálogo do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, até
que é interessante e satisfaz o mercado. Só noto nele uma ausência, muito
difícil para o pródigo serviço público, como o implantado por Lula da Silva e
seu PT e seguido por Dilma Rousseff: o corte de gastos públicos - custeio (não
é a mesma coisa que corte de investimento).
Mais para um arrumado decamerônico*, os 10 mandamentos (veja no final) levíticos (perdoe a troça) são perfeitos para os bancos, que só pensam em
aumentar os lucros, do jeito que o governo de Dilma/Levy quer robustecer o caixa
com um (in)disfarçado "ajuste de
tributos".
No sofisma característico dos banqueiros (adocica o sabor
amargo dos encargos), o novo ministro sinaliza aumento de impostos com a palavra
"ajuste", com o consolo de
que ele irá considerar o ajuste em tributos, principalmente naqueles tendem a
aumentar a poupança doméstica.
Ladino, Joaquim Levy compara a economia brasileira a um
corpo cansado, que está meio abatido, "mas o corpo se recupera”. A esperança
serviu de pano de fundo para a cômoda proposta seguida pelo ministro:
A carga tributária só será estabilizada quando a trajetória dos gastos públicos for “favorável” e o crescimento da economia maior. Qualquer iniciativa tributária terá que ser coerente com a trajetória do gasto público, e benefícios fiscais, como desonerações, por mais atraentes que sejam, terão de ter as consequências consideradas. Caso contrário, essa seria a fórmula para o baixo crescimento endêmico.
Tocar uma economia depois de uma bancarrota é mole, durante um tempo. O ministro Guido Mantega saiu tão desgastado que nem foi para a passagem de cargo. Levou oito anos e nove meses para deixar esgarçada a economia do Brasil. Foi incompetente na construção e na destruição.
O que esperar do ministro do setor privado? O mercado deverá ser bem atendido e se a isso responder com crescimento o baião de dois será um bom prato.
QUEM É JOAQUIM LEVY:
Joaquim Levy, 53 anos, é indicação do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que recusou o convite de Dilma Rousseff. É defensor da política econômica ortodoxa. Foi diretor-superintendente do Bradesco Asset Management, braço de gestão de recursos do banco. É engenheiro, com doutorado em economia. Foi secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato do ex-presidente Lula.
A EQUIPE DO NOVO MINISTRO:
Secretário executivo: Tarcisio Godoy
Secretário da Receita: Jorge Rachid
Secretário do Tesouro: Marcelo Barbosa
Secretário de Política Econômica: Afonso Arinos Secretário de Acompanhamento Econômico (mantido): Pablo Fonseca
Secretário de Assuntos Internacionais: Luiz Balduíno Procuradoria Nacional da Fazenda (mantida): Adriana Queiroz
Presidente da Coordenação da Administração Financeira (CAF): Carlos Alberto Barreto
* Decâmeron, obra do escritor italiano
Boccaccio (1313-1375), onde é marcante o estilo - os principais contos dessa
obra se caracterizam pela licenciosidade.