Enquanto o palanque estava armado não se falava em falta d'água. Havia até alguns hereges que dizia que o abastecimento para os próximos quatro anos estava garantido. Veio a posse, em primeiro de janeiro, e nada se falou, esperando que a estação chuvosa repusesse alguma coisa nos reservatórios. QUASE NADA.

Resultado do enredo tragicômico: a água restante só dá para chegar ao fim do ano e, ainda assim, se forem tomadas medidas de economia.

Agora, pergunte aí se tudo era previsível. Claro que era. Há séculos, a estiagem atinge, principalmente, o Nordeste do Brasil. Todos morriam de saber - mas tentavam enganar - o risco de desabastecimento.

Depois da crise do início dos anos noventa não se registrou mais problemas de abastecimento. Naquela época, o então governador CIRO GOMES fez às pressas o chamado CANAL DO TRABALHADOR, seguindo-se a interligação por canais dos grandes açudes metropolitanos - Pacoti, Pacajus, Riachão, Gavião (não sei se nessa ordem).

Depois, iniciada no Governo Tasso Jereissati e sequenciada pelos seus sucessores, veio o EIXÃO DAS ÁGUAS. A obra só foi concluída no final do segundo mandato de CID GOMES (foi inaugurada no dia 19 de março de 2015). Era a concretização da ideia de interligar bacias e levar água para a zona portuária do Pecém, onde seria construída, também, uma refinaria (furou).

O EIXÃO DAS ÁGUAS (256 km de extensão) é tido como a maior obra hídrica do Ceará. Há quem considere que é maior do que o Orós e o Castanhão, porque assegura o abastecimento de água à Região Metropolitana de Fortaleza, ao Complexo de Indústrias do Pecém e à agricultura irrigada no Médio e Baixo Jaguaribe.

Está certo. A obra é importante, existe, mas só tem função real quando há água nos reservatórios integrados pelo canal a céu aberto. Hoje a situação é absolutamente crítica. Dos 151 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), 114 estão com menos de 30% da capacidade.

Não é novidade o desabastecimento no território cearense. 168 dos 184 municípios cearenses estão com ESTADO DE EMERGÊNCIA decretado em decorrência da estiagem. Novidade é a crise de desabastecimento de água já ter chegado a municípios da Região Metropolitana. Caucaia, Cascavel e São Gonçalo do Amarante estão inclusos no estado de calamidade pública. E Fortaleza, suporta até quando?