O depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC) mexeu, finalmente, com os brios do PT, que ameaça sair agora para o confronto. A presidente Dilma Rousseff (PT) decidiu abrir a boca para se defender - não deu certo o trabalho dos três ministros escalados para a defesa.

E, é claro, o que saiu da boca da presidenta não foi diferente do que ela disse em diversos outros momentos e com diferentes motivações. É como se fosse uma "chave mestra" que serve para todas as portas.

“Não tenho esse tipo de prática. Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro, porque não houve. Segundo, porque, se insinuam, alguns têm interesses políticos”.

Presidenta, e o que não é interesse político? Ajuste o discurso. Saia dessa fórmula geral. Sério, acredito que a presidenta Dilma não tem envolvimento maior com o PETROLÃO, mas fechou os olhos para as "doações" e foi permissiva no caso da refinaria de Pasadena.

O corrupto, que está mamando a rodo, é servil e prestativo e a tudo ele responde "deixe comigo", "eu resolvo", principalmente se ele tem o aval do chefão e a ele (e a família) presta generosos serviços. Quem estava em uma campanha a reboque (no caso, duas) não podia olhar os dentes do cavalo dado.

Dilma disse ainda que na mesma época em que recebeu os recursos, no segundo turno, o candidato Aécio Neves recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores. Certamente, ficaria bandeiroso demais doar só a um lado. No caso de Neves, seria uma prospecção, pois o tucano não tinha força coercitiva.

Por último, a presidenta petista entrou no seu discurso preferido - sua participação entre os revoltosos contra a ditadura de 1964, um discurso roto e cheio de controvérsias, que não comporta comparação no que se refere à delação de lá e de cá.

“Não respeito delator”. Aprendi a não gostar de Joaquim Silvério dos Reis. “Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente".

Está bem, presidenta, a gente acredita, mas o móvel é bem diferente. O delator de lá entregava quem lutava pelo país, ideologicamente. O delator de cá entrega seus parceiros de roubo, pessoas que estão tirando dinheiro que poderia salvar vidas na saúde, financiando moradia de quem não tem e até mesmo no combate ao crime. Calar agora é incentivar a impunidade, o crime, o roubo. Quem banca a delação agora é a Justiça (uma instituição legítima a sociedade), concedendo, em troca, uma redução de pena.

LULA ENTRA NO JOGO

Se a presidente Dilma fez uma fala ainda que não muito boa, quem ameaça também entrar no jogo é o ex-presidente Lula, o chefe de todos e de tudo. O petista já tentou tudo para rebater o PETROLÃO, menos alegar não envolvimento. 

Bateu na imprensa - seu alvo preferido, bateu no partido e até na presidenta Dilma. Como nada deu certo e seu nome continua esquentando para engrossar oficialmente as fileiras dos "PETROLEIROS", Lula da Silva decidiu realinhar-se e partir para ação junto à bancada petista, em Brasília.

Claro que mais uma vez o ex-presidente petista não vai tocar nas denúncias, muito menos naquelas que possam envolver seu nome. Vai preferir trabalhar uma agenda de recuperação do governo Dilma. Sobre o PETROLÃO, quando muito, vai passar ao largo, como sempre, tratando a onda como uma marolinha.

A CRISE DA FALTA
DE LIDERANÇA

E m síntese, o tema merece um aprofundamento, por ser grade e importante, mas vale a pena fazer referência neste espaço e oportunidade. A crise brasileira é fundamentalmente de liderança. 

Falta um líder que seja um estadista, que afiance e antecipe cenários, como fazia FHC nos momentos de crise. Não há confiabilidade quanto à gestão e à condução política. O resultado é o encolhimento dos parceiros e reflexo na economia, por si só já tão maltratada e susceptível de percalços.

Lula da Silva, mais experiente, conseguiu trabalhar com alguma liderança, mas sua sucessora, Dilma Rousseff, uma gerente de projeto, trabalhou como tal, deixando esvair-se o resquício de liderança que detinha, permitindo que o espaço fosse ocupado por emergentes do conservadorismo como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), emulado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, um ladino político de curto lençol ético.

Assim, o Brasil sofre a carência de liderança e vê cada vez mais o poder ser esvaziado. Já não é mais o governo de Dilma, mas um governo de coalizão, com alguns mandantes ocasionais. E o PMDB é quem mais ocupa essa função, sobretudo com o vice-presidente Michel Temer.


A volta de Lula ao cenário governista de Brasília, como ele anuncia, é uma tentativa de retomada desse papel de liderança. Não dá mais, até mesmo porque esse atributo em Lula é curto.