Meu avô, que conheci muito pouco, tinha ditos espirituosos, como constatei anos depois, ao ouvir histórias sobre ele. Repetia, conforme meu pai, sempre que sabia de briga de casal, que "em casa que tem pão e tesão não tem confusão". Certo. Mas, dele, prefiro puxar, por entender bem adequado ao momento, que o axioma "o uso do cachimbo deixa a boca torta".

E faço esse nariz de cera em atenção a uma culta senhora que me abordou: "Estou morrendo de medo de que essa jumenta (justifica que rima com presidentA) compre todo mundo para barrar o impeachment". Expliquei que a sociedade muito havia mudado e que, assim, seria duvidoso. Foi o que me remeteu o cachimbo à memória. De tanto ver corrupção, atitudes venais, políticos descarados e, sobretudo, de tanto ver a impunidade acabamos por acreditar que é o mal que sempre vence.

Parece mesmo. É despudorado o uso da máquina pública. É desavergonhada as andanças e posições desse cidadão Luís Inácio da Silva, apodado Lula, e, da mesma forma, carecem igualmente de pundonor as posições dos sequazes dele, em defesa da manutenção do poder neste país que saquearam e que não querem largar nem que seja só o osso.

A presidentA, ameaçada pelo impeachment, abriu a banca na calçada do Planalto e negocia abertamente a compra de votos para ficar, não interessando se o país vai resistir a tanto sacolejo ético. E o país inteiro, de boca torta pelo uso do cachimbo impudico, assiste a tudo, via câmeras das TVs e páginas de jornais, como se tudo o que está vendo fosse normal.

Não é normal. É uma vergonha. Representa o desnudar das partes mais esconsas desta iniciante democracia representativa deste canhestro presidencialismo brasileiro. Representa ainda o réquiem de um partido que se perdeu na voracidade da dominação e da prosperidade indecente de seus sequazes.

Se ainda não houvesse configurado o crime de responsabilidade na inicial do pedido de impeachment que a Câmara avalia, como alegam os governistas, sem olhar o que fazem, pleno de tal crime está o caminho traçado da reação dos integrantes do governo, essencialmente a presidentA, reforçado pelo séquito do apelidado Lula. Eles corporificam o crime que alegam não existir na peça em análise.

Faça um cotejamento do que faz agora e do que fez o governo e seus dois principais líderes -Dilma e Lula- com o que regula a Constituição Brasileira no seu artigo 85, que transcrevo a seguir:


Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. 


Quantos incisos do artigo 85 estão sendo -ou foram transgredidos- pelo pessoal do Planalto e do PT, sob as lideranças de Dilma e de Lula? Não preciso nem alegar que o testemunho maior de tudo é a vexatória situação brasileira, sem crédito, sem confiança, com uma inflação e um desemprego que castigam a quem mais precisa e uma administração que maltrata e até mata cidadãos (de todas as idades) nas ruas e nas filas dos hospitais.

Dá-me um asco profundo quando vejo governadores como os do Ceará, Camilo Santana, que ofereceu um banquete; do Piauí, Wellington Dias; e da Paraíba, Ricardo Coutinho, gastando desbragadamente o dinheiro do contribuinte que representam nem tão honestamente, para homenagear Lula, em peregrinação pelo Ceará para apregoar a esperteza e comprar votos para barrar o impeachment da companheira Dilma. Direito de tomar partido no caso e de estar ao lado do finório petista chefe eles têm, mas que o fizessem com o dinheiro deles e não com o dinheiro do povo.


A SOCIEDADE AVANÇA NA FRENTE


Retorno à amiga que me disse estar apavorada com a possibilidade de "comprarem tudo e todos" com o nosso dinheiro. Perceba, cara amiga, que caiu o cachimbo que entortou a boca, e alguns que o usavam demais estão recolhidos ao xadrez para pagar o vício.

A sociedade vai sempre na frente e os poderes políticos são os últimos a perceberem as mudanças, pela extrema fé na impunidade. Na longa e tortuosa estrada da construção democrática setores da sociedade brasileira estão bem na frente. São esses setores que fazem as mudanças, as transformações e punem os corruptos até que corrupção na política, como nos países desenvolvidos, seja caso apenas de polícia.

Agora, esses homens e mulheres que estão na vanguarda da sociedade ainda recebem cutucados das forças do atraso (os corruptos e a tropa de choque por eles formada com dinheiro público), como no passado o senador Tasso Jereissati (PSDB) definia os coronéis do PFL. Hoje os antigos coronéis (outro modelo de coronel ainda existe) não estão mais na política partidária, o PFL virou DEM, partido que está com Jereissati e seu PSDB na trincheira que defende o impeachment, onde também estão os antigos coronéis.

Será que o fato de alguns políticos poderosos e bilionários empresários estarem na cadeia, enquanto outros respondem processos em liberdade não nos faz encarar com um pouco mais de fé e esperança as mudanças éticas que estão sendo implantadas neste país? Deveria. O "atávico" comportamento corrupto do brasileiro, como sempre quis alegar o apedeuta Lula (é assim que todo mundo faz), não mais assoma (e nunca foi) como verdadeiro, contrariando também aos aportes teóricos de Gilberto Freyre e Euclides da Cunha.

No fluxo e no refluxo da política, o que era atraso avançou e que era avanço virou força do atraso. E, embora sem felicidade, afirmamos que o cidadão Luís Inácio da Silva, apodado Lula, foi o cínico líder desse processo deletério. Na enxurrada de lama não vai só o PT, mas segmentos de outros partidos, que só deixam de afundar junto na lama que afoga o PT se cortarem na carne.
É um duro e difícil processo. Não precisava disso. Tudo estava a favor para que o Brasil transpusesse o umbral do subdesenvolvimento em ascensão direta ao rol dos países desenvolvidos. A soberba, a ganância e ânsia da dominação, aliados a rasteiros instintos morais de prosperidade e impunidade colocaram tudo a perder.

Tão grande e tão enraizados estavam -e ainda estão- os nocivos ensinamentos (e seguidos maus exemplos do principal líder) totalitários de um aparelho estatal aparelhado que cenas medonhas foram patrocinadas pelo secretário de finanças e administração da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Aristides Santos, dentro do Palácio do Planalto (evento dia 01/04/16), com a conivência presencial da PresidentA e de uma mão cheia de outras autoridades da República. O cidadão, que recebe apoio e dinheiro do Governo, abriu a boca, ameaçou a grande maioria dos brasileiros e saiu incólume somente porque faz parte do aparelho organizado e financiado pelo poder. Veja o que ele disse e ateste se não devia ser preso logo após ter proferido tais ameaças:

"Vamos ocupar as propriedades deles, as casas deles no campo. Vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles. Se eles são capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, vamos incomodar as casas deles, as fazendas e as propriedades deles. Vai ter reforma agrária, vai ter luta e não vai ter golpe".
Quem não participa dessa camarilha parece ser inquilino e não cidadão deste país saqueado. Longe de bancar o protetor da verdade e da ética. É certo que a corrupção não está só no meio deles. Está por todo lado, mas isso não pode servir para coonestar a prática. Como está, parece que somos os verdadeiros "sem-teto" desse Brasil que eles ostentam dominar e, se for assim, disso fazemos questão. Mas estamos em movimento para espraiar por todo território brasileiro uma conduta ética e moral elevadas, onde vai sempre aparecer corrupção, mas aí será meramente caso de polícia, como já dissemos acima, e não uma política partidária e de governo, como hoje parece ser.

Assim, não podia ser diferente: o relator da Comissão Especial do Impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO),  afirmou que a presidente praticou atos que foram enquadrados como crime de responsabilidade fiscal e dá parecer à favor da abertura do processo no Senado. Agora é esperar que os representantes do povo votem em sintonia com os anseios dos representados.

E só para você conferir, veja o sete pecados capitais da PRESIDENTA