Claro que é preciso conhecer mais a Covid-19, mas já há alguns indícios importantes sobre a contaminação no universo, sobretudo sobre a força do contágio em algumas regiões (e mesmo países) e a baixa incidência em outras e sobre o fracasso do isolamento em comunidades superpopulosas, principalmente as favelas.

É preciso que se fale a verdade e que não se faça somente terror. O isolamento vale muito pouco na detenção do contágio; somente atrasa, para dar tempo que o aparato de combate seja montado. E esse atraso já aconteceu no Brasil, que tem 86% dos municípios fora do Coronavírus. Ademais disso o que se vê com sobras é o discurso vazio de governadores e prefeitos (muitos deles) no caso do isolamento, em que pese as ameaças incabíveis de prisão e multas.

Agora, o que é verdadeiramente importante quase não é ponderado por essas ditas autoridades (?). Basta levantar os pontos de gargalos: 1) muita gente que foi para o isolamento já estava contaminada (famílias inteiras compartilharam o vírus no cativeiro familiar); 2) as comunidades densamente povoadas (favelas, conjuntos populares etc.) não conseguem fazer um eficiente isolamento social; 3) as filas dos bancos e lotéricas e de outras importantes repartições, como Receita Federal); 4) a distribuição de cestas de alimentos e de refeições por entidades, incluindo o próprio governo e prefeituras; 5) os ônibus, trens e metrôs, que transportam as pessoas que fazem os serviços essenciais. Não falamos dos bailes funks e da vida comum nas favelas.

Que diferença há entre as tais situações elencadas e pessoas trabalhando com todas as medidas de controle adotadas (luvas, distanciamento, máscaras e álcool gel, por exemplo)? Se os mais velhos e as pessoas com doenças crônicas formam grupos de risco, que sejam protegidas, mesmo isoladas com maior rigor, e não como acontece hoje (nas filas dos bancos, sobretudo). É tudo uma pantomima, e seus autores correram para encená-la sem sequer considerarem suas consequências. Não me constrange afirmar que a diferença no número de mortes em uma situação de controle de isolamento e trabalho e nessa situação burlesca que vivenciamos não assustaria e talvez até fosse menor, se os controles fossem efetivos e eficazes.

É hora de ser cobrada uma análise percuciente e não atitudes midiáticas atabalhoadas, que têm sido constantes até agora. Se no primeiro momento houve atropelos dá para entender, mas agora, passados mais de 30 dias e visto o comportamento do novo vírus, dá para adoção de atitudes mais consequentes e que não custem tanto no presente e, principalmente, no futuro. É momento de esquecer as teorias conspiratórias e o jogo político indigno. É hora do fim do jogo de cena.


Baile Funk, desafia o novo coronavírus