O Brasil está realmente em uma caixa de violência irrefreável, como produto de um governo permissivo, conivente e de uma justiça leniente, que favorece a impunidade até do contingente interno, como sobra na estrutura governamental. Na gestão do Executivo federal todo dia estoura escândalos de roubalheira e, no Judiciário, são flagrados juízes e até desembargadores, para não ir além (e punidos com aposentadoria antecipada, com raras exceções), vendendo sentenças, praticando outras falcatruas, perdoando e trancando apurações, processos e acordos de leniência para devolução de valores e bens rapinados da esfera pública, ou seja, do contribuinte.

Nas ruas, a violência toma todo o país, a uma só voz – a das facções. E nem existe mais aquelas ilhas de paz, como anteriormente, em algumas regiões interioranas. Tive de vender um sítio, que mantinha há mais de 20 anos, em Guaramiranga, uma serra de clima ameno, a pouco mais de 100 quilômetros de Fortaleza (como Garanhuns-PE, Serra Negra-SP, Campos do Jordão-SP e Gramado e Canelas-RS) porque os bandidos passaram a invadir as casas para levar tudo em um caminhão baú, deixando os proprietários trancados no banheiro, amarrados ou até mortos.

As facções avançam inexoravelmente no domínio de um Estado falido sobretudo em seu poder coercitivo, legalmente seu. Mandam em quase tudo, com uma estrutura moderna, armento e muito dinheiro lavado para investir. Somente PCC e CV são donos de várias centenas de estratégicos postos da combustíveis, de transportadoras, de jogos, supermercados e distribuidoras pelo Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, junto com a milícia, dominam todo o comércio dos bairros e favelas (gás, distribuição de sinais de TV, Internet et.)

Na política partidária, também, invadem com força e decisão. É estimado que, pelo menos, um terço dos prefeitos e dos parlamentares, em todos os níveis, já são financiados, direta ou indiretamente, pelo crime organizado. Algumas denúncias tímidas já foram feitas, as nada se moveu. O quadro continua se agrava com os avanços das facções. O governador e ex-ministro Ciro Gomes, agora rompido com os irmãos (Senador Cid, prefeito Ivo-Sobral, Lúcio-Docas e Lia-deputada), faz uma denúncia desesperada, tendo como foco a sua amada Sobral, que é dominada há 28 anos por sua família.

Afirmou, em palestra, que quem “quiser ser candidato a vereador em sobral tem de pagar, para começar a campanha, a quantia de R$ 60 mil, a fação que domina o bairro. Depois, deixou uma pergunta ao irmão Ivo: e o prefeito paga quanto? Pelas pesquisas, Sobral é a 3ª cidade mais violenta do Ceará e uma das 50 mais violentas do Brasil - ocupa a 38ª colocação. Fortaleza e a 47ª. No final, dispara: “...não há mais leis no Brasil. É a selva do mais forte”.

O pior é que ele tem razão. Não somente uma bazófia. Em Caucaia está assim, só não sei se já existe pedágio, mas a cidade está fatiada, como em Maracanaú. Até para fazer o São João foi preciso um cuidadoso acordo. Também é do mesmo modo em Itaitinga, Maranguape, Baturité, Boa Viagem etc. Imaginemos agora o cenário do Rio, onde é mais intensa a atuação do crime organizado (traficantes e milícias). Quem conquista os votos na Rocinha-RJ? Um quadro levantado pela Polícia Civil revela que a maior facção criminosa do RJ domina quase 60% das favelas do estado. Das 1.413 comunidades onde o crime organizado se instalou, 828 são controladas pela facção mais numerosa. O RJ tem 1,4 mil favelas dominadas por criminosos, aponta o relatório. Comece assim a entender as circunstâncias em que ocorreu a execução de Mariele Franco e seu motorista.

Há mais pouco menos de um mês fiquei arrepiado com uma história que ouvi envolvendo um famoso advogado (preciso preservar a fonte e pretenso candidato) que tem atuação na Capital e RMF. Está tendente a ser candidato a vereador de Fortaleza, mas como vez por outra defende presos por tráfico de drogas, foi chamado por um conhecido líder da área e indagado que se quisesse ser vereador era só dizer a despesas e preparar o paletó. Nesse caso, eleito o candidato, de quem é o mandato?

E aí, agora, o arrepio é meu. Fico aqui tentando entender como mandatários, como os atuais - e até o passado, hoje ministro da Educação, que fez acordo com os líderes das fações (Ceará e Fortaleza) podem levar vantagens sobre o crime organizado. Sinceramente, com o discurso cuidadoso e o grupo do COESI e uma equipe policial burocrata de gestão no Estado, contido pelo discurso petista, não vejo campo.

Só para posicionar o leitor, segundo dados oficiais das forças de segurança, o Brasil tem 72 facções criminosas em atividade, sendo que duas delas - PCC e CV - possuem atuação transnacional. Delas, 22 estão presentes em pelo menos 178 municípios da Amazônia Legal. As atividades ilegais abrangem diversos setores, mas o país não tem capacidade para rastrear o dinheiro.

Deus salve o Brasil!