Pode até ficar bem e tudo transcorrer na normalidade na campanha do grupo que é liderado pelo clã Gomes, mas o processo de escolha da chapa não foi tranquilo e pode até ter deixado sequelas que produzam reações de efeito retardado, principalmente se o homem candidato do PT (é PT) cidista, Camilo Santana[1], envolvido no escândalo malcheiroso dos banheiros[2] não conseguir um bom desempenho. Ora, desde a virada do ano, Zezinho Albuquerque, Mauro Filho, Leônidas Cristino, Izolda Cela, Domingos Filho e até mesmo o prefeito Roberto Cláudio (até 5 de abril passado) sonharam com a candidatura à sucessão estadual, ou que, pelo menos, que o candidato saísse do meio deles. Foram até à casa do “sem jeito” (velha tática do clã) e viram que o plano era outro, há tempos elaborado, e ficaram (todos) com cara de marido (no caso de Izolda, mulher) traído. 

O clã Gomes pode mesmo alegar que foi quem mais perdeu – ou se sacrificou – com o processo; e é verdade. Pela primeira vez em 32 anos, a eleição no Ceará não terá nenhum candidato do CLÃ GOMES (só tenho dúvida se Ivo realmente renunciou ao direito de renovar seu mandato de deputado estadual). Mesmo no comando do partido majoritário (o poder a tanto é capaz), Cid Gomes se imolou, ficando no governo até o final do mandato, restando ao partido dele (PROS) as vagas de senador (dificílima de ser conquistada) e a de vice-governador. Para o Senado, foi indicado Mauro Benevides Filho, o nome menos adequado para tal disputa, pois sofre uma imensa carga do pai, deputado Mauro Benevides e do irmão Carlos Benevides (cassado como um dos anões do orçamento, que seria o mensalão tupiniquim)[3]. O Mauro pai foi até presidente do Senado e foi derrotado por Sergio Machado[4], então integrante do grupo minguante de Tasso Jereissati na eleição de 1994. Agora, Mauro vive de um cargo de deputado de poucos votos, arrancado (ou seria negociado) o pelo filho, que toma o antigo lugar do pai na disputa ao Senado.

A prova de que houve um tremor, pelo menos, da ordem de 4 graus, na escala Richter, é que Zezinho Albuquerque rejeitou a vice herdada, justificando que preferia concorrer a deputado estadual e disputar por mais dois anos como presidente da Assembleia. A vice sobrou, então, para a ex-secretária de Educação, Izolda Cela (que nem apareceu na convenção), depois do fracasso das negociações com o PCdoB (outro desmamado), pretendente da vaga ao Senado ou mesmo de vice, para Inácio Arruda, o pior parlamentar da história do Ceará, perdendo até para Luís Pontes, quando esteve lá. Nada deu certo. Desse modo, Mauro Benevides Filho, doutor em economia, vai disputar a vaga para o Senado, apesar da carga negativa que carrega. Maurinho, como é chamado pelos amigos do clã, demonstra ter sangue frio e estar cheio de ser deputado estadual (é o quinto mandato consecutivo), sempre chamado para ocupar secretarias do Estado ou do Município. O calado Leônidas Cristino se conformou em disputar uma vaga de deputado federal. Assim, como o lençol é curto, agora quem vai chiar, com a volta de Leônidas Cristino à disputa de deputado federal, é o fraco deputado Antônio Balhmann (Yamacom)[5], que pode ficar a ver navios em sua reeleição. Já o igualmente deserdado Domingos Filho, ensaiou um grito, mas teria aceito a vaga do TCM (seria a de Artur Silva Filho, que é do grupo e pode ser aposentado, sem ter dado uma só contribuição política relevante ao Estado). Domingos vai dedicar seus esforços de graduado servidor do Estado (é o vice até final deste ano) para reeleger a deputado federal o filho Domingos Neto. Depois de tantos e relevantes interesses PÚBICOS acertados, ao eleitor resta o sentimento de abandono e de que TCM e TCE são a cozinha do CLÃ GOMES. É incrível como o clã brinca com a estrutura do Estado. Já deu um cargo vitalício a Artur Silva Filho, a Ernesto Saboya, ao sofrível advogado Hélio Parente e agora agracia também a ex-mulher de Ciro Gomes, Patrícia Saboya. E aí o jeito vai ser aumentar o número de vagas das duas casas de fiscalização (?) da aplicação do dinheiro público, pois, ainda há muitos integrantes do clã a contemplar, sobretudo se perder a eleição.

Disse em artigo anterior, aqui, que a oposição do Ceará, sempre alquebrada, chegou a um estágio de fraqueza que dá pena. O único caminho, portanto, foi transformar a eleição do Ceará em um carcomido (pela corrosão das partes) processo plebiscitário, entre dois males de igual poder. Não havia uma saída visível e o jeito (momento que o clã Gomes adora provocar), foi enfrentar cisão da megacefalia em que havia se transformado o sedutor poder. Lembra até a mitológica lenda da Hidra de Lerna, quando a cabeça cortada se regenera, com a diferença (infelizmente, sem o final feliz da lenda)[6] de que, aqui, também ganha vida e se fortalece a cabeça decepada. Ou seja, o rompimento só é possível quando a macrocéfala Hidra de Lerna do poder tem uma das cabeças amputada, mas, como acontece no corpo, a parte mutilada também se regenera, se fortifica e se traveste em oponente com os resíduos da oposição, onde até faz renascer o cansado e oportunista Fênix. Como é o caso atual, quando o peemedebista de pouca coragem, senador Eunício Oliveira, é empurrado para ser uma alternativa de poder na situação, embora travestido de oposição, onde fez renascer das cinzas o tucano Tasso Jereissati.

FICARAM ASSIM AS DUAS CHAPAS

  • CAMILO SANTANA (DEPUTADO ESTADUAL PELO PT) – CANDIDATO A GOVERNADOR
  • IZOLDA CELA (EX-SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO – PROS) – CANDIDATO A VICE
  • MAURO BENEVIDES FILHO (DEPTADO ESTADUAL-PROS) – CANDIDATO A SENADOR
  • PALANQUE PODE TER A PRESENÇA DE DILMA E DE LULA 

  • EUNÍCIO OLIVEIRA (SENADOR PELO PMDB-CE) – CANDIDATO A GOVERNADOR
  • ROBERTO PESSOA (EX-PREFEITO DE MARACANAÚ PELO PR) – É O CANDIDATO A VICE
  • TASSO JEREISSATI (EX-SENADOR PELO PSDB) – É CANDIDATO A SENADOR
  • O PALANQUE COMUM A TODOS É O DO TUCANO AÉCIO NEVES


[1] Camilo Santana é filho do ex-diretor do Dnocs e atual secretário de Planejamento de Fortaleza, Eudoro Santana, que foi condenado pela compra superfaturada de terreno para reassentamento de moradores atingidos pelas obras de construção do açude Castanhão. http://www.opovo.com.br/app/politica/2013/09/04/noticiaspoliticas,3123380/obras-do-castanhao.shtml.
Eudoro Santana também é o primeiro ex-deputado autorizado a receber pensão de ex-deputado estadual. http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2013/05/17/noticiasjornalpolitica,3057884/tce-autoriza-pensao-para-ex-deputado-estadual-eudoro-santana.shtml

[2] Justiça bloqueia bens de envolvidos no caso do "escândalo dos banheiros". Secretário das Cidades, Camilo Santana (PT), e outros dois ex-secretários são suspeitos de participação no esquema fraudulento. http://cnews.com.br/cnews/noticias/23441/justica_bloqueia_bens_de_envolvidos_no_caso_do_escandalo_dos_banheiros

[3] Caso dos “Anões do Orçamento”, ou “MENSALÃO” tupiniquim. Foram investigados 37 parlamentares. No final, ficaram 18, mas apenas seis foram para a degola: Carlos Benevides (PMDB-CE), Fábio Raunhetti (PTB-RJ), Feres Nader (PTB-RJ), Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), Raquel Cândido (PTB-RO) e José Geraldo (PMDB-MG). Quatro renunciaram antes: o chefe João Alves (sem partido-BA), Manoel Moreira (PMDB-SP), Genebaldo Correia (PMDB-BA) e Cid Carvalho (PMDB-MA). Oito foram absolvidos: Ricardo Fiúza (PFL-PE), Ézio Ferreira (PFL-AM), Ronaldo Aragão (PMDB-RO), Daniel Silva (PPR-RS), Aníbal Teixeira (PTB-MG), Flávio Derzi (PP-MS), Paulo Portugal (PP-RJ) e João de Deus (PPR-RS). Após a CPI, o Congresso implantou uma série de normas para controlar as emendas parlamentares. NÃO DEU RESULTADO. Nada impediu a produção de novos escândalos. Em São Paulo, o que se viu foi o desvio de R$ 169 milhões no prédio do TRT. No Ceará, sabe o presidente estadual peemedebista, continua tudo no mesmo modelo. É até a mesma construtora.

[4] Em 1994, o Senado foi renovado por dois terços. Assim eram duas vagas em disputa. No grupo do PMDB, concorreram Mauro Benevides (mesmo com o filho Carlos Benevides recentemente cassado) e o advogado e radialista, à época senador Cid Carvalho (não confundir com o deputado maranhense Cid Carvalho, que foi um dos anões). Pelo grupo minguante de Tasso Jereissati, no PSDB, concorreram e foram eleitos Lúcio Alcântara e Sergio Machado (este hoje no PMDB e homem do senador Renan Calheiros).

[5] Em 1993, vivia-se o auge de mais uma seca. Fortaleza estava ameaçada de ficar sem água. Ciro Gomes era governador e fez a construção, em 90 dias, do canal do Trabalhador, um duto para trazer água do rio Jaguaribe, num percurso de 115 km, evitando o colapso no abastecimento de Fortaleza. No ano seguinte, Ciro sai para ser ministro da Economia, no lugar de Ricúpero, governo de Itamar Franco, e vem a eleição. Foi um arrastão eleitoral. Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente e Tasso volta ao Governo, para substituir Ciro, a quem elegera. Antônio Balhmann é eleito deputado federal, tendo sido o mais votado do Ceará e o sexto mais votado do país. Foi um fracasso. Perdeu o pleito seguinte e só voltou em 2010, quando já era governador Cid Gomes. Na primeira vez, ele dirigia o setor de desenvolvimento industrial, como também na última eleição. No passado, ele teria se envolvido com o caso Yamacon, um golpe de milhões de reais ao BNB e FNE. Tratava-se de um programa de “flexibilização'' do mercado de trabalho". O governou o Ceará tentou viabilizar a formação de "cooperativas de produção industrial", que resultou no rombo nunca desvendado ou pago.

[6] A Hidra de Lerna – Combate aos Vícios. Hércules teve de destruir um monstro de nove cabeças que soltavam fogo: oito renasciam quando cortadas e a nona era imortal. O herói decepou as oito cabeças enquanto um amigo as cauterizava com fogo. A nona foi enterrada, mas vigiada eternamente por Hércules. “As cabeças simbolizam os vícios. Lutamos contra eles, mas, como são imortais, se não estivermos atentos, renascem. Além dos vícios físicos, como drogas e álcool, temos de combater os vícios éticos, como a ganância. http://www.deldebbio.com.br/2014/02/10/hercules-e-a-hidra-de-lerna/