O poder público no Ceará – quase da mesma forma que em todo Brasil – se movimenta com extrema lerdeza e sem uma noção aguçada das reais prioridades. Há muito tempo estamos alertando para o fato de que está aumentando muito o número de moradores de rua na capital, Fortaleza. A Beira-Mar, por exemplo, abriga mais 100 moradores (de rua, os sem teto). Se na área social, o governo do Ceará (e mesmo a prefeitura de Fortaleza, por que do mesmo barro) mostrasse igual agilidade, tal qual ostenta na construção de obras físicas, como estradas, prédios públicos e até aquário, já haveria pelo menos um estudo, ou pesquisa, mais ampla sobre a questão e, assim, poderia o poder público, à guisa de solução, construir (não significa só o prédio) algumas casas de passagem ou abrigos para os sem-teto e pedintes que pululam nos semáforos.
Se era por falta de uma matéria mais ampla, em um veículo impresso de comunicação convencional, senhores “donos” do poder, não há mais motivo para adiar a busca de conhecimento do problema e sua solução. O jornal O Povo deu matéria e manchete sobre o caso da Praça do Ferreira, tão grave quanto o da Beira-Mar (veja matéria completa no link http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2014/07/26/noticiasjornalcotidiano,3287973/a-praca-como-moradia.shtml). Independente de outras áreas, que também acoitam sem-teto, a avenida Beira-Mar, cartão postal de Fortaleza, tantas vezes já reformada – e outra vez aguardando reforma –, e a Praça do Ferreira, igualmente tantas vezes fuçada, viraram dormitórios dos moradores de rua.
como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros...”), foi construída no início dos anos 60 (concluída em março de 1963), mas já existia há muito tempo, até mesmo antes dos anos 20, quando o pernambucano José de Magalhães Porto instalou ali sua moradia, que chamou de Vila Morena, em homenagem à esposa Francisca Frota Porto, apelidada Morena. O próprio Magalhães, depois, ajudou na construção do antigo porto das Jangadas, que se chamaria depois Praia dos Peixes e Praia de Iracema. Já em 1954, era inaugurado o Porto do Mucuripe, que produziria grandes alterações no perfil da orla.
Muito mais rica é a história da Praça do Ferreira – e triste é uma cidade, e mais ainda um povo, que não conhece seu passado –, palco dos maiores eventos da cidade fortalezense, que tem registro a partir de 1839, quando era apenas um espaço cheio de areia com um poço localizado em sua parte central. No ano de 1842, boticário Antônio Rodrigues Ferreira foi eleito presidente da Câmara Municipal e aumentou as ruas da cidade, dando um traçado muito defeituoso. Criou a praça, que, em 1871, foi chamada de Praça do Ferreira, em referência a ele. Foi o intendente Guilherme Rocha – mandou em Fortaleza quase os mesmos 20 anos que a dinastia Accioly mandou no Ceará – quem mais intervenções fez na praça. Godofredo Maciel foi o prefeito que mandou colocar mosaico na praça inteira, fechou o poço central e mandou retirar os quiosques que Guilherme Rocha havia construído, erigindo no lugar um palanque ao ar livre, substituído por outro coberto em 1923. A Coluna da Hora foi reerguida e o palanque foi derrubado no ano de 1933, por Raimundo Girão. Acrísio da Rocha, prefeito da cidade, inaugurou em 15 de novembro de 1949, o abrigo central, que de início era um terminal de ônibus e fez parte da história da cidade.