Com lágrimas de crocodilo, secretário de Saúde do governo do Ceará, Ciro Gomes (Pros), irmão mais velho do governador Cid Gomes, disse que ia pedir votos contra Tasso Jereissati (PSDB) "com o coração sangrando". Pela fala dele, pedir voto contra Jereissati significa pedir voto para Mauro Filho (Pros). Explicando tudo: Ciro Gomes chegou ao estrelato graças ao apoio político de Jereissati, a partir de 1986, quando Gomes engajou-se na campanha de Jereissati para o governo do Ceará, sucedendo a Gonzaga Motta. Até então, Ciro era do PDS, aliado ferrenho (do Jipe: porque eram poucos) de César Cals. Quando viu o rico (na época, nem tanto) empresário assumir a candidatura ao governo do Ceará, com apoio de Gonzaga Mota e do então presidente José Sarney, ainda que contra os coronéis, aos quais ele era ligado, não perdeu oportunidade e se jogou nos braços de Jereissati, então no PMDB.

Deu certo, o plano. Ao assumir o governo, Jereissati rompeu com Gonzaga Mota e, depois, com o PMDB, passando para o PSDB – fundado durante a eleição de Collor (então, pelo PRN), que colocou Mário Covas como candidato. A carreira do filho de José Euclides explodiu. Foi líder do governo na Assembleia do Ceará, candidato a prefeito dois anos depois e a governador mais dois anos depois. Renunciou ao governo faltando pouco mais de três meses, quando o presidente Itamar Franco (ficou no lugar de Collor, renunciou para não ser cassado) o convocou para o lugar do ministro da Economia Rubens Ricúpero, que caiu por falar (fora do ar) demais em um microfone de TV aberto. Já era estrela e, assim foi candidato duas vezes a presidente da República. Derrotado, nas duas oportunidades, ainda no primeiro turno, deu apoio a Lula e virou ministro. Na primeira eleição do irmão Cid, foi eleito deputado federal (o mais votado), mas não se deu bem e desistiu (segundo afirma) da vida parlamentar. Mantinha uma amizade com Jereissati, que parecia inquebrantável.

Foi na primeira eleição do irmão que ele rompeu com Jereissati, pelo menos na aparência, pois lá em Sobral, onde Cid fora prefeito, se dizia abertamente que ele só topou ser candidato depois que Tasso Jereissati garantiu seu apoio, ainda que fosse de forma velada, como aconteceu. De verdade, foi na segunda eleição de Cid que a fratura da amizade Tasso– Ciro se apresentou de forma exposta. Tasso queria renovar seu mandato de senador e esperou até o limite máximo o apoio do clã Gomes. Cid e Ciro, contudo, tiveram (para manter a aliança com o PT e o PMDB) de apoiar as candidaturas de Eunício Oliveira (PMDB) e de José Pimentel (PT) ao Senado. Jereissati rompeu (enquanto Ciro se revelava muito triste) e foi para eleição. Com o apoio do governo do Ceará e pessoal do presidente Lula, então fortíssimo (elegeu também a Dilma Rousseff), Eunício e Zé Pimentel foram eleitos.


Desde então Ciro e Tasso estão em campos opostos. Agora, Ciro diz que chora por fazer campanha contra Jereissati, mas não evita críticas. Por ironia política, Ciro Gomes e Jereissati trocaram de posição. Ciro, que estava com Eunício, agora está contra, e Tasso, que era contra, agora está ao lado de Eunício. Desse modo, para não ter que explicar uma história de tanto vai-e-vem, Jereissati se saiu com essa em palanque:

“Eu firmei o compromisso de só falar com o povo, sem xingar ninguém. (...) é um compromisso de princípios, pois acho que o povo não merece baixaria. O debate político fala do futuro das pessoas, tem que ser sério”.

Dá para entender?