Esse vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (PMDB), parece ser aluado, pois, só assim, teriam explicações as bobagens que ele disse ao ser apeado e cargo que exercia, juntamente com dois outros secretários do PMDB, ainda como produto da aliança que elegeu Cid governador e Eunício senador e, na eleição seguinte, Roberto Cláudio Prefeito de Fortaleza, tendo o embrulhão Gaudêncio como vice. Ora, se ele e o patrão dele romperam com o clã Gomes para enfrentar uma candidatura ao governo do Ceará, concorrendo com o antigo aliado, é natural que o grupo “lambaceiro” (não seria lambanceiro?), como qualificou Ciro Gomes, deixe a parceria. Pelo que falou, Gaudêncio parece estar assumindo o papel de um lambanceiro chegado às tetas do poder público. Deixou às tetas e saiu atirando de uma forma que só gera constrangimentos para o chefe dele, Eunício, que tem amplo e frágil telhado de vidro. Gaudêncio publicou vídeo acompanhado de textos que questionam se houve “amnésia” em membros do Governo que agiram com “ingratidão” e “desrespeito” ao ex-aliado. Mexeu com o rabo dos outros sem olhar o próprio ao acrescentar que se Eunício não interessa mais aos Ferreira Gomes “pelo fato de não aceitar ser encabrestado, uma forma de controle político através do abuso de autoridade utilizado nos governos coronelistas”.


A RESPOSTA DE CIRO

Ora, e como pistoleiro é que não falta nas hostes do clã Gomes, até mesmo para rechaçar o fogo amigo, os ataques do “marqueteiro” Gaudêncio teve imediata resposta e veio, direta e quente, na voz verbosa de Ciro, enquanto Ivo ficava treinando para momentos posteriores:

“Você está insinuando alguma coisa, Gaudêncio? Deixe disso, afirme como homem, e eu lhe provo quem é ladrão e manipulador de tráfico de influência junto ao setor público. E são vocês, eu não!”

E, para não perder a viagem, Ciro fez referência ainda ao aumento do patrimônio de Eunício e questionou se era verdade ou mentira. Gaudêncio, em quem não vejo tanta moral assim, respondeu:

“Mentira sim, Ciro. O senhor se especializou em esculhambar quem não reza pela sua cartilha. O Eunício tem diversas empresas e apenas uma tem contrato com a Petrobrás e, por sinal, já há alguns anos ele não mais faz parte desta sociedade. Agora me responda: como vive o senhor, que não tem empresa, não tem carreira assinada, tem fonte de renda desconhecida e vive viajando pela Europa e outros continentes? Ou o Senhor acha que salário de secretário de estado supre esta vida nababesca?”

Foi depois do entrevero no facebook, em palanque, que assunto ricamente (é bom que os “podres” de e de outros venham à tona para julgamento, também, do eleitor) pantanoso teve sequência. Ciro tornou ao recontro de forma ainda mais contundente:

“...os cearenses não podem eleger aventureiros, lambaceiros (o certo é lambanceiros. Acho que foi erro do repórter), mentirosos, que fazem da política espaço para enriquecer. O candidato que se apresenta aí é uma mistura de Pinóquio com Irmão Metralha”.

Ciro Gomes fez uma pausa para respirar e em seguida voltou ao microfone, para arremeter mais forte contra o adversário do PMDB, destacando seu espanto com o crescimento do patrimônio de Eunício desde 2010, quando foi eleito senador com o apoio dele e do governador:

“Eram R$ 36 milhões. Em quatro anos, passou para R$ 460 milhões”, disse Ciro. Mas o valor declarado pelo peemedebista à Justiça Eleitoral é de R$ 99 milhões. É o resultado de contratos malversados com a Petrobras”.

E como não é do estilo do Gomes mais velho deixar as coisas incompletas, sem delongas, assestou a boca da sua metralhadora giratória contra o vereador Capitão Wagner (PR), dando sequência a acusações que fizera antes:

“...Eunício escolhe os membros da CPI da Petrobras para chantagear o governo (Dilma Rousseff). E como empresário no ramo de segurança privada, ele vive de privatizar a segurança pública, o serviço público”. A violência no Ceará não será resolvida convidando vagabundo chefe de milícia para ser secretário de Segurança (Referia-se ao Capitão Wagner que anunciara ter sido para assumir a pasta em caso de vitória)”.


O JULGAMENTO DO HOMEM PÚBLICO

Capitão Wagner, que deveria agradecer a ajuda de Ciro em sua postulação a deputado estadual, respondeu que não iria polemizar, preferindo dizer que suas propostas, incluindo a de segurança, estão registradas em cartório, mas o Gomes governador, Cid, entrou na contenda com mais lenha para colocar na fogueira, respondendo a insinuações que o candidato peemedebista teria feito de que o governo estaria usando dinheiro público parar “angariar apoio” dos prefeitos e ao bate-boca e Ciro com Gaudêncio.

“Se o Eunício quer ser governador, tem que primeiro falar a verdade”. Sobre o entrevero com Gaudêncio disse que “às vezes, o que se considera baixar o nível é dizer verdades. E verdades têm que ser ditas”.  É bom que fique em um nível em que se trabalhe com a verdade porque a gente vai ficar conhecendo melhor (os candidatos). Quem está na vida pública, por definição, tem que ter uma vida pessoal limpa. Na hora em que ela se apresenta à população, ela está admitindo tacitamente ser julgada pela população. Isso faz parte do processo”. É bom que se investigue também a vida dos candidatos Camilo, Eliane Novais (PSB), Aílton Lopes (PSol) e Eunício, “para ver, ao longo da sua vida, como se comportaram. “São homens públicos, alguns há muitos anos, portanto devem satisfações das suas vidas, não de aspectos ligados à família, mas de patrimônio”. 


O JOGO DE INTIMIDAÇÃO DE PARTE A PARTE

Sou defensor do pensamento de que não existe baixo nível em campanha. Só lamento que, tanto um lado como o outro, sabendo muito mais do que soltam – quase sempre a título de intimidação do contendor –, não revelem tudo. De qualquer modo, com a elevada temperatura deste início de campanha, seja em nível estadual, como em nível nacional, ocorra algum escorregão e alguém acabe entregando mais do que o combinado. No cenário nacional, as agressões já chegaram também a altura do pescoço. O PSDB, depois das insinuações de Lula da Silva a Aécio Neves no caso da construção do aeródromo de Cláudio (MG) dentro de um terreno do tio-avô do tucano desapropriado pelo Estado, fez um duro revide ao ex-presidente. Relembraram o caso que envolveu Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. Coube a Pimenta da Veiga, candidato de Aécio ao governo de Minas, dar a resposta:

“Misturar assuntos pessoais com assuntos de governo não é pratica do PSDB. O presidente Lula perdeu mais uma boa oportunidade para dar as explicações que o Brasil aguarda há muito tempo sobre atos que envolvem pessoas da sua intimidade. Rose, ex-chefe de gabinete da Presidência, foi citada em operação da Polícia Federal. Segundo a PF, ela usava a proximidade que tinha com Lula para obter vantagens”.