Sinto asco algumas vezes com a retórica político-eleitoral de alguns candidatos, sobretudo os que disputam reeleição ou aqueles que são patrocinados pelo governo, ainda que não exclua os oposicionistas, que, algumas vezes, também apelam. Os recandidatos ou os candidatos patrocinados pelos governantes usam e abusam de sofismas e dos embustes puros e simples. Perceba dois (dos muitos, em apenas dois dias de campanha na TV e no rádio) episódios que faço questão de comentar:

1) Presidenta/candidata Dilma Rousseff vai ao leito do São Francisco, trecho em obras (retomadas só agora) da transposição. Trata-se de uma visita somente para fazer uma vacina contra os ataques da oposição sobre o atraso/abandono das obras. No local, os muitos assessores e seguranças, a presidenta/candidata e seu arauto Lula da Silva e o pessoal de TV, com as Câmeras, é claro. O trecho foi cuidadosamente escolhido e apresenta sinais visíveis de obras em curso. A presidenta repromete a obra, que também foi prometida por Lula da Silva, há oito anos, em sua segunda eleição e deveria ter sido inaugurada há quatro anos (2010). A repromessa agora é para 2016. Rearmada a trama, faltava o discurso.

Dilma, em primeiro lugar, reconheceu o atraso, como se fosse de uns dias e insignificante, portanto. "Só não atrasa obras de engenharia quem as faz. Quem não constrói nada não atrasa", disse zombeteira e naquele jeito de pendulo de Foucault, ou como o boneco "João Teimoso" (lembra dele?). Depois, foi a vez do arauto Lula da Silva, que falou, em tom de mofa, dos benefícios da obra, para concluir que o eleitor estava vendo muitas obras em construção que ele não sabia.

2) Outro fojo armado para eleitor apareceu em todos os jornais do Nordeste (22/08/14): Criação da Coordenadoria Integrada de Segurança Pública (Cisp) para a Região Nordeste - uma espécie de fórum deliberativo e executivo que promete tornar mais eficaz o combate de crimes como roubo a bancos, tráfico de drogas e de armas de fogo, uso ilegal de explosivos e outros delitos cometidos por grupos criminosos com atuação interestadual. A decisão do Governo Federal saiu pressionada pelos índices de violência da região, uma novidade que explode logo agora, na campanha de recandidatura da presidenta Dilma Rousseff, que nunca colocou a segurança como verdadeira prioridade. Basta ver o mapa apresentado como fundamento da criação do novo órgão federal - mapa da violência entres os anos 2002 e 2012, quando as taxas de homicídios no Maranhão, Rio Grande do Norte e na Bahia, por exemplo, mais que triplicaram.

Mesmo com atraso de mais de 10 anos, qualquer medida de integração no combate à criminalidade é salutar, mas não dá para esconder a desídia do governo. Enquanto o item segurança fizer parte do rol da retórica de dominação dos governantes a solução se distancia cada vez mais, embora abrindo espaço para uma burocracia que prospera na falta de medidas realmente eficazes.