Se no cenário nacional a comoção é maior, na província Ceará há abalos, mas o barro é de espécie inferior. Já disse antes e repito agora que nunca antes na história deste Estado seco e sem rios perenes as opções majoritárias, fundamentalmente para governador, apareceram tão fracas e desalentadoras. Dá mais desânimo ainda perceber que não há terceira via.

De qualquer modo, os abalos existem e nem sempre são entendidos, porque não alcançam ou por um prematuro e descabido estado de euforia, que atinge até assessores menores, também fartos de propina e embriagados pelo poder. Situação que levou um conhecido profissional da área de comunicação, identificado com o metiê, a dizer que "a máfia é muito pesada".



A pesquisa mais recente que rolou (do DataFolha), com uma amostra apenas de pouco mais de mil entrevistas (1.108) em todo o Ceará, apontou a permanência de uma quadro favorável nas intenções de voto (veja quadros), faltando uma semana para a entrada do tempo de TV e de rádio. Não dá para fazer comparativos entre pesquisas de institutos diferentes, mas pode ser dito que o quadro iniciante pouco se alterou. Somente os candidatos de mais baixo conhecimento, como Camilo Santana (do PT do clã), a candidata do PSB e o candidato do PSOL, tiveram uma natural melhoria de performance. Vale mais, neste momento, que um percentual de 61% ainda não sabe em quem vai votar, conforme levantamento espontâneo. Há especialistas que afirmam que agora são mais importantes os dados da pesquisa espontânea, porque melhor representaria os dados consolidados de preferência. Entendo, porém, que não há essa relação biunívoca. São apenas indicativos. Valem mais outros elementos como, por exemplo, o nível de conhecimento e a estrutura partidária. Nesse cenário, também, os índices de rejeição pouco importam agora.

Veja, atestando o que foi dito no item anterior, que na espontânea, Eunício lidera com 17%, Camilo, com 7% e até, mesmo não sendo candidato, o governador Cid Gomes (Pros) aparece com 3%, enquanto Eliane Novais tem apenas 1% e Ailton não pontua. É o "recall(zão)" (recordação, pelo uso massivo da mídia e do cargo) que fala mais alto. Os números da perquirição estimulada (apresentação dos nomes que concorrem ao cargo), neste momento mais afetadas pela lembrança passada, apontam que nem segundo turno haveria (veja números nos quadros) se o dia do voto fosse hoje. Mas falta muito e no dia 4 de outubro, o dia do voto, valerá sobretudo a lembrança atual, da campanha, ainda fortemente influenciada pela TV e o rádio.


QUEDA DO GOVERNADOR PREOCUPA MAIS

O ex-governador Lúcio Alcântara (hoje no PR) foi um inusitado caso de um governante bem avaliado a perder uma reeleição (tinha mais de 60% de aprovação). Uma campanha errada - chorando como filho bastardo, pelo apoio de Lula da Silva, já no palanque adversário - e muita traição produziram o resultado, responsável pela consolidação do grupo que ocupa o poder hegemônico na província cearense por quase oito anos. Veja que as diferenças fazem as diferenças. Cid Gomes, final do segundo mandato, patrocina um candidato sem experiência político-administrativa mesmo tendo apenas 46% de aprovação. Dados que não conheço, mas que o jornal que contratou (encomendar abriga, também, significados depreciativos) o levantamento publicou apontam que a aprovação de Cid cai de 65% para 46% no segundo mandato (veja quadros). É ruim. 

Nada em campanha é igual, mas na sua reeleição, Cid Gomes fez crescer a aprovação de seu governo, que estava em números semelhantes ao atual, meses antes da campanha. Repetir o ato agora é mais improvável, porque ele não é um candidato, mas sim o padrinho. Não há outra caminho. É usar a estrutura partidária (coligação de 18 partidos) como base, fazer no horário eleitoral uma exaustiva campanha de prestação de conta (do que foi feito nos oito anos) e amarrar que muito mais será feito, incluindo as grandes obras em curso, se o eleitor escolher o candidato dele, que deve ajudar tendo um boa desempenho no palanque eletrônico. Se os três itens funcionarem solidamente um bom embate se produzirá.