CID GOMES COMEMORA NOS BRAÇOS DO POVO

Bem, está aí a resposta das urnas, representando, bem ou mal, a vontade do eleitor, que é soberana e, aqui acolá, traz agradáveis surpresas. E, só para não perder a tramontana, digo que quem leu os comentários que publico aqui pode ver uma certeira previsão dos fatos que ora estão colocados, resultantes das vontades das urnas. E vamos a eles, interpretando e relatando os momentos mais curiosos.

No plano presidencial, Dilma Rousseff (PT) ficou no seu desempenho, nem inflou e tampouco emagreceu, enquanto, no segundo lugar, Aécio Neves (PSDB) cresceu, como vinha fazendo nos últimos dias, passou Marina da Silva (PSB) e chegou perto de Dilma, com quem vai disputar o segundo turno. O tucano Aécio sai muito forte do estágio de primeira volta eleitoral, porquanto vira em estado crescente, enquanto Dilma, ainda que segurando expressivo percentual de votos, produto direto dos currais eleitorais dos programas sociais, como o Bolsa Família, pode até conter com mãos de ferro os cabrestos eleitorais, mas passar daí é que é problema. As urnas mostraram isso com clareza. Em estados mais dependentes da esmola (ou suborno) social, como Ceará, Piauí e Maranhão, a senhora presidenta obteve uma maioria acachapante. Ficou claro quer os segmentos sociais mais esclarecidos querem fazer o PT apear do poder, ao qual se incrustou como um sanguessuga.



O GRITO DAS RUAS INFLUIU

Quase ninguém deu importância ao grito das ruas de junho do ano passado (2013), mas não há dúvidas de que resquícios dele impregnaram alguns resultados da atual campanha e até mesmo desempenhos encruados, como o da presidenta Dilma. É claro e notório que há uma vontade de mudança no eleitorado, já sobejamente manifestada neste primeiro turno. Evidente que os mais graduados petistas sabem disso, mas trataram de desvirtuar o discurso, tentando resumir tudo a um dístico que há muitos eles usam: é o PSDB ou os tucanos ou ainda o atraso que quer retomar o poder.

Toda campanha, o PT procura um demônio. Na passada, foi a privatização da Petrobras. No pleito atual, depois que Dilma e seu PT fizeram diversas privatizações e que até Petrobras foi privatizada pela corrupção, o discurso não cola mais. O jeito, então, foi voltar ao velho embate do "modernismo, do avanço do PT" contra o "arcaísmo, o passado" que representa o PSDB. Alguns candidatos de fora do circuito tentaram se aproveitar da velha rixa entre PSDB e PT, que dura mais de 20 anos, espalhando que é hora de o Brasil encontrar uma terceira via. Não vejo assim, acho que mesmo o corrupto PT pode ser realinhado, da mesma forma como os tucanos podem encontrar e novos caminhos. O bipartidarismo mantém forte a democracia norte americana há mais de um século, da mesma forma que a britânica. É o pluripartidarismo inconsequente, como o brasileiro, de 33 partidos - quase todos meramente cartoriais -, que torna instável a democracia brasileira.


O JOGO DO SEGUNDO TURNO


Quase sempre o segundo turno significa uma nova eleição e não uma continuidade. É uma verdade. É também uma variável verdadeira que quem vira crescente continua crescente. E nessa primeira volta foi Aécio Neves quem virou na fase crescente, enquanto Dilma Rousseff abraçava-se vigorosamente às porteiras do curral do suborno dos planos assistencialistas para não descer. Se no primeiro turno todas as vantagens do nosso capenga sistema eleitoral eram da petista (máquina do governo e maior tempo de TV), no segundo turno o tempo de TV, pelo menos, se iguala. Cada um tem 10 minutos. Mas a grande questão que paira é saber quem herda os mais de 20% de votos que ficaram órfãos, com a saída do páreo de Marina Silva (PSB) e de outros candidatos menos votados (sentido literal).

É certo que muita coisa pode acontecer. Esse bolo de voto, hoje à deriva, pode se esfacelar e tomar destinos divergentes. De forma alguma irão, como uma manada em disparada em um só rumo, mas podem desequilibrar se tomarem rotuladamente o destino do PT ou o do PSDB. Depende da habilidade de cada um conquistar o apoio da liderança maior - Marina Silva. Há uma tendência, e alguns aliados de Marina já confessaram, de o grupo optar pelo ninho tucano, muitos, incluindo a ambientalista acreana, sentiram-se atingidas pelas críticas cáusticas da Dilma, de Lula e do PT no momento em que Marina ameaçou tomar a frente da disputa. Ficaram sequelas (preste atenção, Miriam Leitão!). Lula e Dilma, que ironizaram maldosamente Marina dependem agora do apoio dela para a conquista de mais uma quadra de poder. Fico simulando o discurso de Lula, no palanque, ao lado de Marina. Será o supremo exercício de mimetismo do licencioso petista.

Como acha difícil conquistar tal apoio, embora de janela escancarada, negociando tudo, Dilma Rousseff, seu PT e siglas aliadas já convocam governadores eleitos no primeiro turno e senadores para o trabalho de convencimento do eleitor no segundo. É o que deve fazer também o PSDB, de portas abertas para Marina. Paralelo a essa preparação do exercito e tentativa de conquistar aliados, as duas estruturas dos candidatos assestam as armas para o duelo voto a voto.

VALE ATÉ DEDO NO OLHO


Sim, mas como estaria a situação de intenção de voto agora (e esta semana já tem divulgação de pesquisa)? Não tenho medo de arriscar que a probabilidade maior é de Aécio Neves estar à frente, mas em um apertado placar, pelas razões que já indiquei - ele virou crescente deve ter continuado a crescer. Só vai parar em um choque, um rompimento epistemológico, como diria o cientista social ou político do nada. É patente que a turma de marketing e política do PT sabe disso e já anunciou que vai para cima do adversário com um discurso tão violento como o feito contra Marina, quando ela ameaçou tomar a dianteira do processo. A presidente Dilma sabe que dificilmente poderá atrair Marina, pelo que disse e espalhou dela, mas já revelou que mesmo Marina indo para o lado tucano alguma coisa sobrará e "virá para o meu lado". PODE, SIM.

CEARÁ - UM PT QUE NÃO É PT 

PAGANDO O PREÇO DE SER PT

Há poucas semelhanças no cenário cearense com a corrida presidencial. Uma delas é a virada do primeiro para o segundo turno, que favoreceu - e ainda favorece ao candidato Camilo Santana (PT do clã). Vou explicar mais uma vez que qualifico partidariamente desse modo o candidato Camilo porque tenho certeza de que ele é pouco PT e muito o clã Ferreira Gomes. Sua filiação ao PT foi um oportunismo do passado, quando disputou e perdeu duas eleições para prefeito do Barbalha. Quando o governador Cid Gomes o conheceu (na primeira campanha ao governo do Estado), havia uma aliança com o PT e os dois acharam conveniente a permanência dele no PT. E foi. Através dela, Cid pode dar um traço nos velhos companheiros de partido e no voluntarioso deputado federal Guimarães (PT), que queria ser candidato a senador. Camilo era a saída perfeita para manter a aliança do Pros (foi PSB) com o PT, e deu certo, ainda que não tenha coseguido apaziguar todo o PT. O grupo da ex-prefeita de Fortaleza, Luzianne Lins (quatro gatos pingados), não engole o "petista" e já saíram às ruas para manifestar apoio ao adversário - Eunício Oliveira, do PMDB.

Quanto ao apoio dos outros dois candidatos, nada rende. O candidato do PSOL, Aílton Lopes, já disse que não apoia ninguém. A candidata do PSB, Eliane Novais, vai esperar o rumo do seu partido nacionalmente - Aécio ou Dilma - para tomar uma posição local. Esperar por isso é perder tempo. É possível que, no primeiro momento, os votos dos dois candidatos que já saíram da disputa, algo em torno de 5%, caiam na vala do grau de alienação eleitoral. Depois, irão se realinhando de um lado e do outro.

Em verdade, Camilo virou na frente e crescente, como vinha desde o início da campanha. Eunício também cresceu, apesar de ficar em segundo ligar, com uma diferença ínfima. A pesquisa que deve ser divulgada ainda esta semana deve apresentar o petista do clã na dianteira, colocando diante de Eunício o mesmo drama que vive Dilma Rousseff, apoiadora dos dois candidatos - como parar a evolução constante de Camilo? Durante todo o primeiro turno, Eunício não logrou êxito nesse desiderato.

Camilo Santana e Eunício Oliveira não fizeram boas campanhas na TV e no rádio. Eunício teimou em cultuar o personalismo e quanto acordou para romper o caminho de crescimento permanente do adversário não soube fazer. Bateu errado e insistiu no erro, vacinando o oponente. Camilo igualmente teve um comportamento piegas, adocicado, muito bom moço para o gosto cearense. No decorrer dos programas e inserções comerciais foi corrigindo. Melhorou, mas tanto ele como o peemedebista continuaram a mirar o eleitor de canto de olho, ora de um lado, ora de outro, como se vendo estivesse uma partida de tênis.

APOSTANDO NA SEGURANÇA

Todos os candidatos pelo Brasil que precisam de um segundo turno tiraram a segunda-feira (06/10/14) para planejamento. A segunda volta é feita em curto período - a eleição definitiva será dia 26/10/14 - e não há tempo para corrigir erros. Dos lados dos peemedebistas já saiu um informação de que o candidato investirá no programa de segurança, utilizando o deputado estadual eleito Capitão Wagner (PR), o mais votado (194.239 votos), como propagandista. Não será suficiente. Wagner é um ex-policial-militar muito mais afeito ao sindicalismo, à luta sobre os direitos do servidor. Pouco conhece os caminhos do combate à violência.

Por esse caminho, o candidato Camilo não fica atrás. Se Eunício tem Wagner, Camilo tem o deputado federal eleito Moroni Torgan (DEM), também o campeão de votos dos federais (277.774 votos). Uma ironia, pois na eleição municipal (20120 Moroni, ao lado de Roberto Cláudio, ajudou a derrotar o PT (do candidato Elmano, agora eleito deputado estadual). No segundo turno, pode ajudar a levar um petista (do clã) à vitória. E como a atual eleição tem colocado características inusitadas, o próprio Moroni vive uma delas: o DEM está coligado ao PMDB de Eunício, que apoia Dilma, mas ele apoia Aécio Neves e Camilo Santana, que também apoia Dilma. É uma barafunda só.


O VOTO MIDIÁTICO X VOTO DE CURRAL

Escrevi no início deste comentário que as urnas revelaram diversas verdades, a maioria boas, mas algumas não tão alvissareiras. Mostraram, infelizmente, que o voto de curral, seguro com o dinheiro dos candidatos, pode ser tão forte como o voto midiático. Preste atenção que Moroni obteve 277.774 votos. O segundo deputado federal mais votado foi Genecias Noronha (SD) - 221.567 votos. De quebra, Genecias ainda elegeu deputada estadual a mulher Aderlania Noronha (SD) - 97.172 votos, a segunda com maior número de sufrágios. Genecias está no livro Os Ben$ que os Políticos Fazem, do jornalista Chico de Gois. Está escrito lá que o patrimônio de Genecias cresceu 40 vezes em dez anos de vida pública. Evoluiu de R$ 98.800, quando ele se candidatou a vice-prefeito de Parambu em 2000, para mais de R$ 4,6 milhões em 2010, conforme a declaração de bens informada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

MAIS VOTOS EM FAMÍLIA


Se Genecias se elegeu deputado federal e a mulher a estadual, o cordão de três dobras familiar acabou quebrando uma ponta. O marido, Dr. Jaziel não foi eleito a deputado federal, mas a Dra. Silvana conseguiu uma cadeira na Assembleia do Ceará. Já o clã Benevides perdeu a boquinha ativa do poder público. Mauro Filho (Pros) foi derrotado para o Senado e seu pai, Mauro Benevides, não conseguiu reeleição. É a primeiro vez em mais de 50 anos que não há um Benevides no parlamento. O clã Ferreira Gomes faz também um recuo discreto: fica com só um membro da família no poder público - Ivo Gomes conquistou mais um mandato de deputado estadual.

Pelo Brasil afora, muitos parlamentares famosos e de muitas eleições foram descartados. Eu vou sentir falta do senador Pedro Simon (PMDB-RS), mas nenhuma falta me fará o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). No Ceará, ficaram desempregados, além de Mauro Benevides (PMDB), 84 anos, deputado há 55 (desde 1959), Inácio Arruda (PCdoB), Téo Menezes (DEM), Fernando Hugo (SD), Vicente Arruda (PR), Ariosto Holanda (Pros), Edson Silva (Pros), Dedé Teixeira (PT), Raquel Marques (PT), Lula Morais (PCdoB), Professor Teodoro (PSD) e Sineval Roque (Pros). NÃO ME FAZEM NENHUMA FALTA.


Veja no link abaixo o salto do governador nos braços do povo:


http://www.opovo.com.br/app/politica/eleicoes2014/camilosantana/2014/10/05/notcamilosantana,3326490/em-comemoracao-com-camilo-cid-se-joga-nos-bracos-do-publico.shtml