Não preciso e nem gosto de dar lição, apesar de atuar também como professor, mas pediria a essa turma que anda escrevendo nos jornais de Fortaleza que leia muito e amadureça mais as ideias antes de passá-las ao (e)leitor - e cuidado com a flexão.

Vi matéria sobre a sucessão de Fortaleza, que acontecerá em 2016, mas confesso que não me aclarou muito o intrincado movimento de possibilidades entre os muitos partidos e pretensos candidato. Bem que o redator quis até ser chistoso, mas a análise estratégica e tática do jogo que ele quis ler me pareceu, apesar de interessante, superficial e incompleta.

Foi tudo mais ou menos na pauta dos conformes até quanto a abordagem se limitou aos movimentos dos partidos, das principais lideranças e dos franco-atiradores na preparação, do espaço e do time para o jogo. A partir daí, quando caiu para os alinhar os nomes prováveis e as possibilidades de cada um que agora se "vende" como candidato, tudo ficou muito confuso, incompleto e desconexo.

Nem mesmo os craques que podem ser selecionados para o jogo, ainda com algumas regras a definir, foram listados. Outros, que agora só querem aparecer na vitrine, foram nomeados.

Roberto Cláudio (prefeito de Fortaleza) não é a candidatura mais "fechada". Se ele não desistir, é a única candidatura certa. O grupo que ele integra, o clã Gomes, tenta resolver problemas de partido, notadamente, e de tempo de TV, com uma nova mudança (em bloco), indo para o PDT. Já fizeram isso quando foram para o PPS, depois para o PSB e agora procuram o abrigo de outra legenda.

O PDT pode ser uma boa mudança, mas está longe de ser a solução de todos os problemas. Há insatisfações manifestas com a aterrissagem do clã. Nacionalmente, o senador Cristovam Buarque resiste e nas lides cearenses, o deputado estadual Heitor Férrer ameaça saltar fora do trabalhismo se o clã, melhor dizendo, se o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, assinar a ficha do partido.

Já o tempo de TV, a ida para o PDT não altera quase nada. RC, que foi latifundiário da TV e do rádio em sua campanha passada, terá um mero minifúndio em sua recandidatura, se não segurar o PT, sua melhor chance, por causa do governador do Ceará, Camilo Santana, que tem se mantido como aliado, apesar de também inerme.

O PMDB está fora de qualquer jogo com o clã Gomes, da mesma forma que o PSDB, PR, PSB, PCdoB. Dos partidos que têm um tempinho de TV e de rádio sobram PTB, PPS, PSD, SDD e o DEM. O restante quase nada acrescenta ao tempo comum.

O DEM e seu tempo de TV (no nível do PDT) foi esquecido nas matérias sobre a sucessão de Fortaleza de O Povo, sobretudo seu presidente regional, o deputado federal mais votado do Ceará, Moroni Torgan, que está como aliado do prefeito Roberto Cláudio. Seria Moroni um jogador a ficar fora, hoje, de qualquer time na disputa de Fortaleza? É um erro não levar o DEM e seu presidente em consideração.

Em termos de Ceará e Fortaleza, sobre a banda não governista do PT, PMDB e PSDB só a legenda peemedebista pode segurar uma candidatura e ainda assim se garantir aliança com PR, PSDB e até o PSB. Sozinho, só o próprio senador Eunício Oliveira, improvável, enfrentaria. Gaudêncio é oco, Vitor Valim (com sua chocha votação) e Agenor Neto (e seus processos) também e lhes faltam votos.

A banda "luzzianista" do PT também tem pouca densidade. A própria Luizianne e sua modesta votação, como modesta é a atuação dela como deputada federal, terá dificuldade para bancar uma candidatura, muito menos como nomes frágeis como Acrísio, Guilherme Sampaio e Elmano, que quase não entra no parlamento estadual.

O PSDB do senador Tasso Jereissati, como nomes sem densidade e desgastados, parece tendente a apostar, em último caso, na suplente de deputada Mayra Pinheiro, atual presidente do Sindicato dos Médicos. Pior ainda seria Paulo Angelim e Carlos Matos, que passou 12 anos para conseguir chegar a Assembleia Legislativa.

Se, ao invés dos partidos, abordarmos a eleição pelos nomes, incluindo os de sempre, ditos independentes, a equação chega quase ao mesmo ponto. Quem está posto até agora? Roberto Cláudio (Pros, até agora) é dono da bola e garantido. Capitão Wagner é nome forte e presença certa na mesa da sucessão.

Só, ou seja, somente com o PR, ele pensará mais de duas vezes. Só enfrentará uma candidatura com apoio do PMDB e, nesse caso, o PSDB pegará carona. Ficou pior para o clã e seu prefeito, o PSB ter passado para as mãos da oposição, com Roberto Pessoa. Com o novo cacife, PSB e PR podem bancar uma candidatura, no caso de fracassar uma aliança mais ampla, ou se a estratégia for a pulverização, pouco provável, pelo preço da eleição.

Na sobra, está, além dos ditos pequenos, ou nanicos (Psol, PSTU, PRB, PCB) como queiram, o deputado estadual Heitor Férrer, que vinha como o queridinho de todos. Viu sua bola murchar um pouco com a performance excepcional de Wagner na eleição e pela pauta da segurança continuar em alta. Agora, a ameaça de o clã Gomes e o prefeito Roberto Cláudio se mudarem para o PDT tornou ainda mais difícil uma candidatura do homem que gosta de jogar só.

Ditando as regras do jogo estão velhos caciques, chamados de carregadores de piano. Não é bem isso. Jereissati (PSDB), Roberto Pessoa (PSB), Lúcio Alcântara (PR), Eunício Oliveira (PMDB) vão ser os crupiês, pois estão mais para um cassino do que um campo de futebol. Se novidade daí surgir, será da parte de Roberto Pessoa, sempre ousado e corajoso, menos na última eleição ao governo.

Já o senador petista José Pimentel pouco vai apitar e uma candidatura dele hoje pode ser vista como remota, pelo papel que ele tem tido no Senado e pelo desgaste do governo. Está no muro na divisão do PT no Ceará. Papel maior, embora esquecido na matéria, terá o deputado federal Guimarães, pois tem atuado com maior desenvoltura, segurando o PT no lado governista com o inodoro Camilo Santana e o clã Gomes.

São os movimentos esperados da época.