Por essas – e por outras – é que entendo como demais
oportuno o editorial do jornal Folha de SP, sob o título “Nem Dilma nem Temer”,
defendendo a RENÚNCIA da presidenta Dilma Rousseff e a do vice, Temer, de
quebra.
O arrazoado alinhado pelo jornal para fundamentar a defesa
da RENÚNCIA não difere do que a maioria tem lembrado e mesmo daquilo que está
no processo de impeachment, tirando as pedaladas fiscais. Veja o editorial:
A presidente Dilma Rousseff (PT)
perdeu as condições de governar o país. É com pesar que este jornal chega a
essa conclusão. Nunca é desejável interromper, ainda que por meios legais, um
mandato presidencial obtido em eleição democrática.
Depois de seu partido
protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois
de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu
governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.
Formou-se imensa maioria
favorável a seu impeachment. As maiores manifestações políticas de que se tem
registro no Brasil tomaram as ruas a exigir a remoção da presidente.
Sempre oportunistas, as forças
dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.
A administração foi posta a
serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de
apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com
problemas na Justiça.
Mesmo que vença a batalha na
Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não se vislumbra como ela possa
voltar a governar. Os fatores que levaram à falência de sua autoridade
persistirão.
Enquanto Dilma Rousseff
permanecer no cargo, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer
que a presidente constitui hoje o obstáculo à recuperação do país.
Esta Folha continuará
empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos fatos e um espectro plural
de opiniões, mas passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à
deposição constitucional.
Embora existam motivos para o
impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum
deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora,
comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura
orçamentária ainda permissiva.
Mesmo desmoralizado, o PT tem
respaldo de uma minoria expressiva; o impeachment tenderá a deixar um rastro
de ressentimento. Já a renúncia traduziria, num gesto de desapego e
realismo, a consciência da mandatária de que condições alheias à sua vontade a
impedem de se desincumbir da missão.
A mesma consciência deveria ter
Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de suficiente apoio na sociedade. Dada
a gravidade excepcional desta crise, seria uma bênção que o poder retornasse
logo ao povo a fim de que ele investisse alguém da legitimidade requerida para
promover reformas estruturais e tirar o país da estagnação.
O Tribunal Superior Eleitoral
julgará as contas da chapa eleita em 2014 e poderá cassá-la. Seja por essa
saída, seja pela renúncia dupla, a população seria convocada a participar de
nova eleição presidencial, num prazo de 90 dias.
Imprescindível, antes, que a
Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste de vez a nefasta
figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de sucessão–, réu naquela corte
e que jamais poderia dirigir o Brasil nesse intervalo.
Dilma Rousseff deve renunciar
já, para poupar o país do trauma do impeachment e superar tanto o impasse que o
mantém atolado como a calamidade sem precedentes do atual governo.