Se a delação "premiada" do traíra Sergio Machado (PMDB), por mais de 11 anos presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, teria um objetivo diferente somente da salvaguarda do pescoço do delator e dos três filhos -que ele puxou para a lama da propina da estatal-, esse desiderato se perdeu nas brumas da canalhice no varejo.

É que o cidadão, provando ter um caráter ruim, depois de complicar os amigos e os filhos, agora abriu o leque da distribuição do "larjan" (era assim que se referia ao dinheiro de campanha) que ele amealhava juntos aos empresários que tinham contrato com a Petrobras e subsidiárias. E, certamente, o que ele distribuía era uma pequena parte do bolão, que ficava em casa.

Segundo a jornalista Maria Cristina Fernandes, editora de Política do Valor, só "há dois tipos de políticos: aqueles que levantam grana para fazer política e os que fazem política para levantar grana”. Machado une, em seu "modus operandi", os dois tipos. 

Trabalhou assim desde a primeira campanha de Tasso Jereissati para o governo do Ceará, em 1986, quando foi coordenador. Como senador, de um único mandato, começou a sua especialização na área da propina e se doutorou na Transpetro.

Lembro de um amigo que dizia que o grande problema da pessoa que gosta de juntar dinheiro público para servir os chefes é que ele mistura com o dele e depois não sabe separar. Sergio nunca teve dificuldades nesse área. Sabia muito bem e sempre deixava a parte maior no cofre. Por isso, há quem aposte que se Machado promete devolver R$ bilhão é porque arrecadou em propina quatro vezes tal quantia.

Agora, Machado está no varejo para tentar passar a imagem de magnânimo com a pólvora alheia. Não tem nada disso está apenas querendo salvar um pouco do que "era dele" e cumprir um papel que acertou com alguém ao fazer a delação; e de quebra salvar o pescoço, dele e dos filhos, e salvar algum. Essa política da vala comum é muito próxima de certos caciques do PT. 

Ora, a propina pegou (e serviu) todo mundo. Então, por que tanta onda com o PT de Zé Dirceu, de Lula e Dilma. João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, está preso por fazer o que Machado fazia. Se é pecado (crime) com a gente tem de ser pecado também com eles. Ou, então, não é pecado para ninguém. Como dizia Lula quando presidente, ao falar sobre o caixa 2, afinal, "é o que todo mundo faz".

Por esse mesmo raciocínio por que impedir Dilma? O caso criado por Machado ajuda a promover a volta da Rousseff ao governo. Seria esse o papel que Sergio Machado cumpre? Ele é capaz e preparado para tanto. O varejo da propina que ele agora espalha, procurando envolver todo mundo serve a tal objetivo.


Na época das campanhas era mais ou menos assim: Sergio (voz rouca falando) dá dinheiro aos nossos candidatos e cuidado para não empanzinar, pois você está comendo demais. Sim, e dá alguma coisa para o pessoal do outro lado, que é para legitimar se houver um depois. 

Veja a relação:


Político
Partido
Cargo atual
Michel Temer
PMDB-SP
Pres. da República em exercício
Gabriel Chalita
PMDB-SP
Sec. da Educ. da Pref. de SP
Renan Calheiros
PMDB-AL
Presidente do Senado
José Sarney
PMDB-AP
Ex-presidente da República
Edison Lobão
PMDB-MA
Senador
Jader Barbalho
PMDB
Senador
Henrique Eduardo Alves
PMDB-RN
Senador
Garibaldi Alves
PMDB-RN
Senador
Walter Alves
PMDB-RN
Deputado Federal
Eduardo Braga
PMDB-AM
Senaddor
Valdir Raupp
PMDB-RO
Senador
Teotônio Vilela Filho
PMDB-AL
Ex-senador
Vilta do Rego
PMDB-PB
Ministro do TCU
Romero Jucá
PMDB-RR
Senador
Luis Sérgio
PT-RJ
Deputado Federal
Edson Santos
PT-RJ
Deputado Federal
Jorge Bittar
PT-RJ
Ex-deputado federal
Ideli Salvatti
PT-SC
Ex-ministra do governo Dilma
Cândido Vaccarezza
PT-SP
Deputado Federal
José Agripino Maia
DEM-RN
Senador
Felipe Maia
DEM-RN
Deputado Federal
Jandira Feghali
PCdoB-RJ
Deputada federal
Francisco Dornelles
PP-RJ
Gov. em exercício do RJ
Heráclito Fortes
PSB-PI
Deputado Federal
Luiz Carlos M. de Barros

Ex-ministro das Com. de FHC
Sergio Guerra*
PSDB-PE
Ex-senador
Aécio Neves
PSDB-MG
Senador

* Morto em 2014.