Quem tem telhado de vidro não pode sair por aí desafiando o pessoal que gosta de apedrejar. Vale mirar-se no exemplo Eike Batista. As fortunas que chegam fáceis e montadas nas confortáveis garupas do poder público costumam se esvair com a mesma diligência que aportam. 

O senador Eunício Oliveira (PMDB), na sua exacerbada vaidade, está expondo abertamente a sua vida na encruzilhada de sua trajetória política. Poderia pensar que já está podre de rico e que um recolhimento nababesco seria salutar. Mas escolheu ir para o tudo ou nada. Termina em 2018 seu mandato de senador e são reduzidas as chances de renová-lo. Assim, ser eleito presidente do Senado seria um adjutório valioso para o seu futuro político. Só que o preço dessa disputa é nudez da vida empresarial e política do candidato.

Os jornais já fizeram -e publicaram- um levantamento completo. No jornal Nacional (Globo) mostrou que há dois envolvimentos do senador com a Lava Jato. Eunício negou. Todos negam. De qualquer modo, os jornais impressos e as mídias sociais estão com um inventário completo da vida empresarial dele:

Segundo senador mais rico no exercício do cargo, com um patrimônio declarado de R$ 99 milhões em 2014. Eunício Oliveira (PMDB-CE) ampliou sua fortuna fechando negócios com o governo federal, enquanto exercia funções públicas. As duas principais empresas do peemedebista, favorito na eleição para a presidência do Senado, marcada para a quarta-feira, têm contratos de R$ 703 milhões com bancos da União. O valor corresponde aos pagamentos previstos entre 2011 e 2019, período que coincide com o mandato do peemedebista.

A Confederal e a Corpvs, que prestam serviços de vigilância, limpeza e transporte de valores, integram a holding Remmo Participações, na qual o senador tem 99% de controle, conforme sua declaração de bens mais recente à Justiça Eleitoral. O Banco do Brasil pagará às empresas R$ 542,8 milhões por serviços contratados em dez Estados e no DF, entre 2015 e 2019. A Caixa, que tem parte da cúpula loteada pelo PMDB, vai desembolsar outros R$ 147 milhões entre 2011 e 2019. O Banco Central fechou outro contrato, de R$ 14 milhões, entre 2014 e 2017.

Somam-se a essas cifras os valores pactuados com diversos outros órgãos da administração direta, a exemplo do Ministério da Saúde e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que renderam R$ 70 milhões à Confederal nos últimos dois anos.


TUDO CONFORME ENCAMINHOU O SOGRO FALECIDO, PAES DE ANDRADE.

E não adianta papo vaselina de que está afastado legalmente "de toda e qualquer função gerencial" nas suas empresas desde 1998, quando foi eleito deputado federal pela primeira vez. Como o senador Renan Calheiros (PMDB), o amigão de quem agora quer descolar para garantir a eleição, Oliveira informou ainda que as "constantes variações anuais de nascimentos, compra e venda de cabeças de gado, características no setor", são declaradas também anualmente à Receita e aos órgãos de fiscalização e controle.

Tirante o discurso inocente de praxe, a Constituição veda que o congressista participe da gerência ou da administração da empresa contratada e reza que empresas de deputados e senadores não podem ser contratadas pelo poder público, salvo quando os contratos obedecem a cláusulas uniformes ou padrões (que valham também para qualquer outra pessoa jurídica). Estarão as empresas do senador de Lavras da Mangabeira nessa linha de exceção?