Caixa dois x corrupção. Já escrevi sobre isso, sem medo. A deduragem da ODEBRECHT é uma tentativa que tem os dedos dos espertalhões maiores que comandam (ou comandaram) a trapaça, de um lado e do outro. O objetivo é misturar tudo, caixa dois e corrupção. E são bem diferentes. Caixa dois foi o dinheiro que Luizianne Lins recebeu do seu partido, o PT, na sua reeleição à prefeita de Fortaleza. Foi o dinheiro que Aécio Neves e Camilo Santana receberam para financiar suas campanhas.
Corrupção foram as milionárias palestras de Lula, o sítio e o apartamento que ele recebeu de empreiteiras. Foram os R$ 10 milhões que o filho de Lula recebeu pela edição da MP dos carros importados. Foram os bilhões de reais que o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (e sua mulher) recebeu para custear sua boa vida e fazer sua ostensiva prosperidade. Foram mais de três centenas de milhões de dólares que Sergio Machado (Transpetro) recebeu e repassou (parte deles) para seus parceiros-chefes de propina (Renan Calheiros, Sarney e Jáder Barbalho, sobretudo).
Os dois configuram crime. O de corrupção é mais grave em sua definição e punição. A corrupção tenta vencer a aura de impunidade. Já o caixa dois vem sendo tolerado ao longo da história democrática do Brasil, como sustentáculo dos partidos. Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que certamente usou tais recursos, “há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades políticos-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção”. Para ele, divulgações “apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais”.
Vale recorrer ao que foi dito aqui, no escrito anterior, aproveitando o aporte do professor Leôncio Martins Rodrigues (Ciência Política USP/UNICAMP), no trabalho QUESTÕES DA DEMOCRACIA E DO SOCIALISMO - Lênin: o partido, o Estado e a burocracia. "O caixa dois é uma hipocrisia que não muda. Um lado se vangloriava de que tinha dinheiro suficiente para me dar ao luxo de sustentar até mesmo meus inimigos. O outro, com Lênin, pregava que pegaria o dinheiro do Diabo, se preciso, para servir à revolução".