Quase exatos 60 anos depois é novamente intentado o comunismo no Brasil. A história quase que se repete, os procedimentos, os apoiadores também e os mentores, ainda que não sejam os mesmos d’antanho, são deles produtos, discípulos, soldados. Só os papéis estão invertidos.

Na crise que estourou no início da década de 60, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, no dia 25 de agosto, menos de sete meses após ter tomado posse (31/janeiro/61), o país entrou em uma grave crise institucional. O vice-presidente João Goulart estava em visita à China, o Presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, assume o governo interinamente. E já no dia seguinte, o Congresso aprova uma emenda constitucional instituindo o regime parlamentarista, e, claro, reduzindo os poderes presidenciais. João Goulart assume em 7 de setembro e indica Tancredo Neves para o cargo de primeiro-ministro.

Foi ruim a experiência parlamentarista, que duraria pouco mais de 14 meses, queimando um modelo mais estável que o presidencialismo. O entra e sai de primeiro-ministro passou por Tancredo (renunciou), foi indicado San Tiago Dantas (vetado pelo CN), seguiu com Auro Mouro Andrade, que renunciou no mesmo dia porque Goulart não aceitou seu gabinete. Brochado da Rocha foi aprovado e passou a trabalhar para antecipar o plebiscito, previsto para 1965. Não conseguiu e renunciou um dia antes de a consulta popular ser aprovada para 6 de janeiro de 1963. O plebiscito registrou que 9,5 milhões de eleitores (82% do total) votaram pelo retorno ao presidencialismo, decisão que passou a valer a partir de sua homologação pelo Congresso Nacional, no dia 23 de janeiro de 1963.

João Goulart assume e logo encaminha propostas de reformas agrária e urbana, que o Congresso Nacional rejeita, provocando forte reação por parte dos grupos de esquerda. Sargentos, suboficiais e cabos das Forças Armadas se rebelam, reivindicando o direito de exercer mandato parlamentar nas três esferas de governo, o que contrariava a Constituição de 1946. Depois, no campo, invasões são promovidas pelas Ligas Camponesas intensificam os conflitos pela posse da terra. O presidente decide promover uma série de grandes comícios a fim de mobilizar a população em favor das reformas de base. O rio de Janeiro para o primeiro grande comício, em 13 de março de 1964. Era o comício das reformas, que registrou um público estimado de 200 mil pessoas. Com todo a equipe de governo, deputados, autoridades e líderes sindicais, Goulart proclama as mudanças: uma nova Constituição, medidas, como o tabelamento dos aluguéis, a nacionalização das refinarias de petróleo pertencentes ao capital privado e, o que seria o princípio da reforma agrária, a desapropriação das terras em torno dos grandes açudes públicos e às margens das rodovias e ferrovias.

Só demorou seis dias. Em São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo cerca de 500 mil pessoas, era o sinal para a o golpe, que depôs João Goulart e colocou os militares do poder, por 21 anos. Em 2 de abril, Ranieri Mazzilli assume interinamente o governo e, no dia seguinte, com o poder de fato na mão dos militares, desencadeia-se em todo o País uma onda de prisões de líderes políticos, sindicais e camponeses, enquanto João Goulart se refugia no Uruguai. A partir daí, um grupo identificado como de esquerda, instalou no país uma guerrilha, que foi integrada por diversos personagens, que hoje, alguns deles, ainda estão na linha de frente do grupo detém o poder.

O povo deu seu recado nas ruas e apoiou a intervenção. As instituições também e a grande mídia, como os jornais O Globo Estadão, Folha, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, entre outros. O militar mais duro no processo, marechal Costa e Silva, disse que a intervenção só ocorreu ‘por exigência inelutável do povo brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento’ ou ‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários”. E o então presidente do grupo Globo, Roberto Marinho, mesmo no seu pedido de desculpa, 20 anos depois, por ter apoiado o golpe, revelou que entendia que a “intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana”. No fim da sua carta, afirma que “o apoio foi um erro”, assim “como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”.

O quadro do passado foi esse e o atual se desenrola com semelhanças, só os papéis estão invertidos. Os erros, no entanto, persistem. Tanto um caminho quanto o outro levam a ditadura. A democracia, como está na carta de desculpas, é um valor absoluto, não precisa de guardiões, de salvadores.