Considerada uma das cidades mais pobres do país em 2003, o município de Guaribas, no interior do Piauí, com cerca de 4,5 mil habitantes na época, foi o primeiro do Brasil a receber o Programa Fome Zero. O programa foi desativado logo depois e hoje muito pouco mudou na vida dos mais pobres.
Vejamos exemplos de um e do outro. O primeiro caso se revela no “distanciamento” de Maduro, seu grande aliado no continente sul-americano, na reta final da eleição, realizada no domingo, dia 28/07/24. Tudo armado e combinado, para abrir espaço para a farsa eleitoral que aconteceu; até a frase que ele soltou, lavando as mãos, como Pilatos: “que elejam o presidente que quiserem”. O segundo exemplo, aconteceu durante o encontro do G-20 no Rio de Janeiro. Ele disse, “candidamente”, que “a fome não é uma coisa natural” e que existe “por decisão política”.
Quem ouviu e não conhece a história parece até que ele nunca foi governo e sim oposição. Mas Lula da Silva era governo e dominou o poder 13 dos 20 anos do novo milênio. Não fosse por isso, teríamos de dar razão a ele e nos rendermos aos seus sábios argumentos. Abstendo esse passado, é claro que ele tem razão. De fato, “são decisões políticas que engendram as condições para que uma parte da população sofra de insegurança alimentar”, como atesta o Estadão, em seu editorial. É certo que Lula conta com a pouca memória da maioria da população brasileira. E ele passa olimpicamente sobre seu tempo no poder e do fato de que “algumas dessas decisões políticas foram suas; várias delas cruciais para piorar a vida dos mais pobres”.
Em outro trecho do editorial, diz o jornal que, durante longos 13 anos, “ele e sua criatura, Dilma Rousseff, deixaram deliberadamente de fazer reformas que poderiam modernizar o Estado brasileiro, dinamizar o setor produtivo e estimular o crescimento sustentável da economia, condição sem a qual milhões de brasileiros ficarão permanentemente à mercê da pobreza extrema”. Mas a escolha política lulopetista foi deliberadamente a do atraso.
Em outro trecho do editorial, diz o jornal Estadão que Lula e Dilma “fizeram opção preferencial pela dilapidação das contas públicas como alavanca do desenvolvimento, movidos pela convicção de que o Estado deve ser o protagonista da economia, cabendo à iniciativa privada papel acessório nesse esforço”. O governo não buscou parceiros, a não ser no escandaloso caso da corrupção da Petrobras. O resultado foi desastroso e o Estado, que pensava ser o patrocinador do crescimento, “sangrou até ver quase esgotada sua capacidade de atender os mais necessitados em suas carências básicas”.
O filme vivido nesse passado recente se repete agora. O desequilíbrio das contas públicas, negligenciado por Lula e Dilma, levou à alta dos juros, à inflação e, por fim, à recessão, que sempre castiga fortemente os mais pobres. E não é somente um "déjà-vu ". O Brasil, outra vez, está sangrando, à beira de uma recessão grave, graças à rejeição do presidente em controlar o orçamento, já quase esgotado para investimento em qualquer área, e, principalmente, o social. Outra vez, com flashs de amnésia, o comunopetista reassume o seu preferencial tom messiânico para anunciar o pré-lançamento de mais um programa de combate à fome: Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que ”vai tirar o Brasil do Mapa da Fome até o fim de meu mandato”.
Os dados apresentados no editorial do Estadão mostram que no triênio 2021-2023, 8,4 milhões de brasileiros – ou 3,9% da população – passavam fome e estavam em quadro de subnutrição. Está tudo no mais recente relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, conhecido como Mapa da Fome”, elaborado pela ONU. O estudo mostra ainda que um quinto dos brasileiros, ou 39,7 milhões de pessoas, se encontrava em insegurança alimentar moderada ou grave.
É incerto o resultado do programa anunciado. Pode até amenizar, mas não sobram esperanças que façam acreditar na superação desse funesto destino. Tais programas quase nunca resgatam. Ao contrário, quase sempre abrem uma estrada que vicia e cria uma perpetua a dependência. Basta tomar o resultado do Bolsa Família, nascido com o mesmo propósito. Hoje, os dados mostram que há 21 milhões inscritos, com o benefício saltando de R$ 200 para R$ 700, mas o prato continua vazio na mesa.
Nessa direção é o foco que está errado. Certo que, às vezes, sustentar e até alimentar a dependência é o objetivo. O Estadão conclui com correção que somente “Crescimento sustentado, geração de empregos de qualidade, distribuição da riqueza, abertura da economia, saúde eficiente e educação com resultados exitosos, e não demagogia, é o que livrará os brasileiros da fome”.